Cap.68 Um guerreiro no ciclo da vida

5 3 0
                                    

Callio nunca almejou alcançar grandes patamares ou o reconhecimento dos outros. Desistiu de sua primorosa carreira escoltando pessoas e mercadorias em comboios até Tan e um pouco além para ficar ao lado de Cidri após a morte da esposa, se tornou agricultor, deu início a uma vida talvez tão trabalhosa quanto a anterior, mas mais tranquila e feliz. Ser saudado pelos outros líderes de companhia criou um nó em seu estômago, pôde sentir o amargor tomando conta de sua boca. Ressuscitaria a líder de batalhão caso pudesse, apenas para dar-lhe boas sacudidas e perguntar qual era a dificuldade de se manter em segurança dando ordens. As cadeias de comando funcionavam assim, a base poderia ficar destroçada, se tal ato significasse a sobrevivência do topo. E sem apadrinhamento, Callio sempre pertenceu à base, uma bem destacada e vistosa, mas ainda era a base. Agora era o líder do resto do batalhão mais maltratado pela longa batalha, acostumado a ficar na frente e lutar, longe da retaguarda onde se dava as ordens. Deveria ter escolhido carregar um escudo, os malditos deveriam levar amuletos da sorte enfiados em algum lugar.

Havia certa calmaria desconcertante na mudança de objetivos do exército vermelho. Ainda atacavam, mas somente quando estavam muito próximos, ou quando eram atacados, ou quando simplesmente queriam importunar para tentar a sorte. A névoa de aspecto envidraçado ao redor dos pulsos de Felipe estava inutilizada a um minuto inteiro, certamente um recorde desde a destruição de Quetzalcoatl até os monstros gigantes. Os Servos ainda atacavam os magos azuis e atravessavam a direção do exército aliado, mas pareciam indecisos sobre como agir. No avanço do tempo, já estavam às portas de duas e dez minutos de batalha, sem contar o descanso entre ambas. Sede, fome, cansaço que pensava ser impossível sentir pois qualquer pessoa viria a desmaiar antes desse patamar, tudo isso se unia e fazia a mente do Escolhido dar literais voltas intensas, parecia ter girado como fazia quando era criança. Nenhuma dessas incômodas sensações parecia transparecer, ou a Ojavenajas importavam menos que um nada, pois o primeiro mago agarrou Felipe pelo cotovelo e se aproximou aos gritos. Talvez estivesse surdo ou muito energizado pela adrenalina.

— Descobrimos quem faz as vezes de epicentro de tal hoste intragável! - Nenhuma batalha tiraria a eloquência de suas palavras.

— Derrubando esse, derrubamos o resto?!

— Exato! Precisamos deter Xabai, o pérfido conselheiro de Raamá! Faz uso de feitiçaria reprovável, e usa os Servos para conduzir tais poderes!

—… Aquele velho broxa?! Nem consegue andar sem um pedaço de pau no qual apoiar o cor… - Um Servo lançou uma magia de coloração laranja. Ojavenajas bloqueou, e Felipe reduziu o inimigo a cinzas.- O corpo! Como ele é tão poderoso?!

— Com quantos anos os rapazes de vosso mundo começam a brilhar como sóis?

O Escolhido estreitou os olhos e bufou.

— Tá bem, entendi! Vou fazer ele se quebrar inteiro nas escadas daquela torre ali! 

— Mantenha as piadas para depois, Escolhido.

— Piada?

Voou antes de ouvir a resposta do príncipe mago. Conseguiu encontrar Xabai após alguns segundos. Ironicamente, o velho se encontrava a meio caminho entre o exército aliado e as ruínas mais densas, ajoelhado sobre o chão, dentro de um círculo desenhado na rocha por linhas incandescentes, escondido entre paredes destruídas. Seria fácil. Ou assim pensava, pois sentiu-se agarrado por mãos gigantes invisíveis antes de conseguir mirar no rosto desagradável a um quilômetro de distância. Foi jogado exatamente no mesmo lugar onde decolou. Ojavenajas olhou-o repleto de confusão, Calebo parou de lutar e também ficou olhando. Uma flecha fez "TIC" ao rebater contra o elmo da armadura do ogro.

— Porra! - Felipe estava fincado no chão até a panturrilha. Qualquer pessoa normal seria apenas uma pilha de carne esparramada.

— Temos um problema, meu príncipe! As forças inimigas ainda se mantêm muito centradas no Escolhido como que para deixá-lo chegar até Xabai! - Disse um alto-mago ao se aproximar às pressas.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora