Cap.60 Ressurgência

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O Dax estava muito distante, a mais de uma centena de quilômetros logo acima de sua cabeça, a ponto de entrar em órbita. Hakuja também estava distante, visitando cada ossada visível. O lagarto parava, olhava por longos momentos e seguia em frente. Felipe estava na borda de uma das crateras gigantescas, sentindo as células do rosto morrendo e sendo substituídas em ritmo acelerado. Mesmo no início da noite, o buraco vítreo exalava uma aura brilhante na sua visão melhorada. Dois havia explicado, a fusão dos reatores criou elementos pesados como urânio e plutônio, tal qual as colisões de estrelas de nêutrons no espaço. Aquele mundo ficaria inabitável por meio milhão de anos, no mínimo.

Não via nada de fato, sua visão estava embaçada para dar lugar aos pensamentos, mais um repasse dos planos feitos na Hipertorre. A desvantagem ainda era de aproximadamente dez para um, o exército do Comandante Vermelho era tão numeroso quanto a população da cidade dos elfãs. Movimento algum seria feito até que chegasse lá, havia deixado bem claro antes que todos partissem. Sentado à mesa, imaginava as informações repassadas por Edira e Hauctaea como um simulador de batalha, e ao apertar o botão de início, o pequeno exército aliado era engolido pelo inimigo que se movia como uma grande boca abrindo e fechando ao redor. Ojavenajas foi inteligente, colocaria os magos azuis nas extremidades, os Crolan se dignaram a atacar os flancos do exército vermelho, e agora seriam ondas quebrando contra ondas, um fluxo e refluxo até que os inimigos precisassem se reorganizar. Ainda estava ruim, mas com um pouco de sorte os magos azuis ficariam a salvo o bastante para lançar algumas magias mirabolantes. E havia ele mesmo, chegando com grande glória para explodir no núcleo das forças inimigas, se preciso fosse. Os anões sofreriam, a rocha contra os golpes do mar. Talvez pudesse salvá-los, caso se posicionasse à frente do centro e teimasse em derrubar tudo o que chegasse perto demais. Fez uma pedra flutuar até sua mão e a esmagou sem muito esforço. Tinha força suficiente para isso, esperava. Soprou o pó e observou o metal da armadura sem qualquer arranhão.

— Centelha? - A nebulosa tomou forma ao seu lado.- Esqueceu de dizer como eu faço esse negócio desaparecer.

— Tudo se resume à sua vontade. Basta querer, e ela deixará de se manifestar. Agora já sabe como invocá-la, Askartrom?

Felipe confirmou com um movimento de cabeça.

— Preciso trazer meu poder à tona, com cuidado para não externar.

— Sim. - Mesmo após esclarecer a dúvida, Centelha permaneceu ali. Parecia considerar alguma coisa, e por fim voltou a falar em seus pulsos expansivos.- O dragão está a ponto de desistir.

— Eu sei.

— Hakuja faz parte do que você é. Assim como eu, ele carrega uma centelha da Energia Dourada. Não se permita perdê-lo.

— Eu sei. - Felipe repetiu.- Sei do que está falando, mas ele precisa de um tempo. É uma criatura antiga e sábia, apenas se esqueceu disso.

— Se o considera sábio, por que permite que sofra com sua mente agora confusa?

O garoto lançou um olhar até o pequeno lagarto a quilômetros de distância.

— Não estou permitindo isso pelo sofrimento, a experiência terá algum valor. Preciso que ele pense sobre isso, não posso fazer nada enquanto a raiva queima em seu interior. A lembrança desse lugar era vívida, a única memória gravada em sua mente, a âncora mantendo-o preso em meio à tempestade em alto-mar. Ele não está demonstrando e nem demonstrará, mas o golpe foi grande. Havia esperança e uma gota de alegria, agora tudo se foi. Não posso permitir que se torne imparável, afogado em uma raiva profunda demais.

— Precisa de aceitação da parte dele.

— Aceitação, agora? Jamais. Preciso de superação, preciso saber se Hakuja é forte o suficiente para seguir em frente. Por isso ele deve ver e sentir sem suas lembranças.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora