Setecentas flechas preparadas nas cordas dos arcos, quinhentos soldados prontos para desembainhar suas espadas, apenas o vento movendo-se ao longo da imensa fileira afundada no silêncio resignado. Aguardavam. Solitário, Felipe enfim estava diante do famigerado exército vermelho. Viu como caminhava um soldado melhor paramentado de aspecto selvagem, ouviu o tilintar das moedas prateadas que serviam como enfeites para a armadura. Boa parte do exército vermelho se limitava a usar cota de malha, alguns sequer dispunham de tanto, como os arqueiros fazendo uso de roupões estofados e elmos.
— Identifique-se e diga quais as suas intenções. - Gritou o soldado, à frente do resto, porém ainda no lado interno da borda da trincheira.
— Eu sou o Escolhido, venho conversar com seus líderes.
— Escolhido?! - Desdenhou.- Como vamos saber que é quem diz ser?
— Descobrir a verdade talvez não faça parte do seu trabalho, soldado.
— Hum! Eu sou o general Vontas, à serviço do Comandante Vermelho, muito acima de um simples soldado!
Felipe pôs as mãos atrás das costas.
— Pois saiba de uma coisa: eu não ligo. Vá chamar seus superiores. Ou prefere afirmar sua vaidade?
Vontas bufou e cuspiu, mas foi obrigado a dar meia volta até relatar pessoalmente ao Comandante. Todos estavam de prontidão desde a chegada indiscreta do gigantesco dragão dourado, portanto, reunir todos foi simples e rápido. Menos pessoas desse lado, Felipe constatou ao ver os dois séquitos distintos, acompanhando um homem de vermelho e uma mulher de cinza. Comandante e Raamá, sem dúvidas eram eles, arrastando suas turbas desprezíveis. Quatro soldados corriam na frente, carregando uma grande e grossa tábua até a trincheira, onde deitaram-na para servir de ponte. Quem atravessou primeiro foi o Comandante, sem nenhuma proteção além da maça pendendo ao lado da coxa, seguido por seus sete generais, trajando armaduras volumosas, singulares. Após isso, Raamá também atravessou, assim como os cinco principais sob seu comando, seus conselheiros. Sabia quem eram, seus nomes, mas não possuía uma descrição física, péssima falha. Quetzalcoatl reapareceu, assumindo a dianteira, pois qualquer outra posição seria menos digna. Houve um momento de análise mútua, onde todos tentavam tirar alguma conclusão de quaisquer aspectos visíveis. O Comandante ergueu a mão e os arcos foram retesados.
— Soldados… descansar!
Uma pausa dramática? Sério? Que infantilidade.
— Algumas pessoas me disseram que as suas turminhas andam aprontando todas nessa península. Qual a finalidade desse acampamento enorme? Por acaso vão fazer uma festa?
— Todos aqui possuem certos interesses em comum, rapaz. - Um homem velho cujo rosto exalava um aspecto doentio respondeu.
— Imagino. Parte dos interesses diz respeito a mim, hum?
— Querem que eu acabe com isso? Vou espetar o coração desse menino! - Jinove ameaçou, sacando a espada curva até a metade e exibindo um sorriso insano. Felipe apenas observou aquela atitude, sem deixar de ser tomado pela surpresa, porém optou por relevar.
— Está comendo alguma coisa? - Raamá tentou uma abordagem diferente.
— Ah, sim, sim! São amendoins, quer alguns?
Se aproximou quando a mulher confirmou, estendendo o saco de papel e agitando até depositar metade em sua mão. Retibuiu a aparente simpatia de Raamá, sorrindo, perguntado a si mesmo se a bruxa do Pântano Sangrento era uma pessoa razoável. Incomodado tanto pelo gesto quanto pela aproximação indesejada, o Comandante pigarreou, elevando a voz:
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Nas Ruínas Antigas
FantasyAté onde suas escolhas te levam? A contagem regressiva para o fim da existência já começou. Nos últimos movimentos do ponteiro, Felipe, um adolescente aparentemente comum, é transportado para um planeta em outro universo. Nesse mundo de múltiplas fa...