Cap.3 Segredos de uma floresta

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Andávamos há pouco mais de um hora. Eu caminhava com um passo moderado, mas sempre constante. 

Quando acordei mais cedo, não havia qualquer sinal em meu corpo de que haviam disparado contra mim. A dor sumiu, era como se fosse apenas mais um dia. Netuno  disse que precisávamos chegar rápido até um local minimamente seguro. 

Netuno falava pouco ao longo do caminho. De tempo em tempo, dizia qual direção tomar, ou qual caminho seguir. Parecia saber que eu precisava de um tempo para pensar. E eu estava pensando, mas não consegui chegar a qualquer tipo de conclusão. Talvez tivessem me atacado por conta do portal, e se fosse deles, ou de um inimigo? E se pensassem que eu era um inimigo?

 — Espere! - A voz de Netuno me tirou desse devaneio. - Nós temos duas opções: a mais rápida, e a mais  longa. A mais rápida é por essa floresta à nossa direita, se adentrarmos ela e seguirmos uma cadeia de morros que às vezes surge um pouco acima do horizonte, chegamos do outro lado em menos de um dia. Pelo caminho mais longo, contornamos a floresta, atravessamos o rio e chegamos do outro lado em... Três ou quatro dias.

— Caminho mais rápido, com certeza. Estou com pressa, esqueceu?- Olhei para o céu sem querer.

— Espere um pouco, eu não terminei! Podemos até seguir floresta adentro, mas, essa floresta é perigosa, abriga animais e bestas mortais. Além disso, existe a lenda de que o antigo e prepotente "povo mais poderoso do mundo" vive aí, amaldiçoado a vagar pela floresta sem nunca serem vistos. Quanto à lenda, não se preocupe muito, mas o que vive nessa floresta não gosta de intrusos.

— Uau, você poderia contar sobre os animais perigosos de forma menos dramática!

— Espero que sejam apenas animais...

Foi preciso caminhar por mais uma hora até que a cadeia de morros surgisse acima do horizonte. Na distância, as elevações pareciam incrustadas de jóias em certas partes com o verde claro do capim recém-nascido brilhando tal qual esmeralda. Entretanto, a maior parte era seca pelas pedras e a terra marrom se destacava entre a vegetação da floresta à volta. 

— Já podemos ver os morros, e pelos meus cálculos, devemos entrar aqui.

Netuno observava as velhas e enegrecidas árvores que tomavam conta da nossa esquerda. Regatos que brotavam por entre as pedras da montanha, agora mais próxima, já se podia ver sua base, e escorriam até aquela parte da floresta, que tornou-se então um pântano.

Logo na borda da floresta, uma algazarra do que eu presumi que fossem macacos, tomou conta do ar. Os gritos eram graves e sem ritmo, ecoavam e eu pouco conseguia adivinhar quanto a direção de onde vinham.

 — Vamos ficar atentos, nunca se sabe o que se esconde por trás dessas árvores. Netuno, fique dentro da mochila, virado para trás, isso minimiza as possibilidades de ataque.- Minha voz estava pesada, me sentia cansado e pouco à vontade nesse cenário. 

— É uma boa ideia, gostei de sua tática.

— Pode agradecer aos filmes de terror. Meu amigo Leo me fazia ver alguns. Não saber o perigo que vinha por trás significava morte certa.

Me senti um pouco orgulhoso de ter um amigo que sem querer me foi muito útil.

Quanto mais adentramos a floresta, mais escuro ficava. A luz entrava por pequenas frestas em meio às folhas das árvores, mas era pouco eficiente tornando boa parte do que estava à volta, em silhuetas escuras no breu quase total. Diversos pássaros grasnavam como corvos. O lugar era bem úmido e diversos cogumelos cresciam entre as raízes das árvores. Uma névoa muito esparsa e baixa guardava os locais mais escuros e frios daquela parte da floresta.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora