Cap.19 Asas; garras; espadas

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O acampamento estava montado à vista das árvores de Sorejade. Barracas azuis menores formavam um semicírculo ao redor de uma enorme e solitária tenda verde com paredes de tecido. Todas as fogueiras em que preparavam a comida estavam apagadas, molhadas por horas de chuva que apenas aumentava em quantidade. As luzes se concentravam no interior das barracas e na tenda, que brilhava como uma esmeralda gigantesca. Lá, doze ninfas se sentavam em um círculo, vestindo roupas verdes, emitindo luz verde. 

Estavam assim desde o início da chuva, quando decidiram que procurar o que havia despertado Quetzalcóatl seria infrutífero se não soubessem onde começar a busca. Sorejade era uma floresta extensa, suas árvores eram cobertas pela aura das intenções malignas dos seres que viviam ali, escondidos na escuridão persistente que certos locais proporcionavam.

Estavam assim, em profundo estado meditativo, quando uma centelha anormal pôde ser sentida por todas com total clareza. Vinha do sul. As doze mentes unidas se esforçaram para alcançar aquele ponto específico em meio ao enorme descampado. Havia um poder presente ali, e logo dois. Ambos extremamente semelhantes ao que haviam sentido antes, o poder que despertou a serpente alada, mas ao mesmo tempo extremamente diferentes.

Mas havia mais do que isso. Havia ímpeto selvagem, medo, sangue... morte. E medo da morte acima de tudo. Algo estava se desenrolando e parecia urgente.

— Se vamos interferir, precisamos ir de imediato. - A ninfa Safira sussurra, enquanto todas as outras acenam em concordância.- A distância é grande demais, não chegaremos a tempo mesmo nos movendo a toda velocidade. 

— Temos o suficiente para três portais. - Lind informa, estendendo três triângulos metálicos para que todas pudessem ver. Seus olhos cinza, próximos ao prata, se apertam em clara desaprovação à  ideia, mas a ninfa sabe que é a única opção de se alcançar o local antes que perdessem aquela fonte de poder, assim como haviam perdido a pessoa responsável por despertar Quetzalcóatl.

— Faremos isso. Existe alguma relação entre as duas centelhas e a primeira. - Cibele decide.

— E não é só isso. Há uma terceira presença. - Violeta finalmente abre os olhos. Olhos lilás pontilhados de roxo escuro.- Fraca e contida, mas ela também tem relação com a primeira. Tudo está conectado. Esses poderes estão se atraindo.

— Lótus, reúna os anões, arqueiros poderão ser úteis. Com tanto poder em uma pequena área, mal consigo distinguir alguma forma de vida, não sabemos o que nos aguarda. - Cibele se levanta. Parece pensar por alguns instantes.- Vistam suas armaduras. Existe a possibilidade de que não sejamos bem recebidas por esses seres poderosos.

Pouco tempo depois, enquanto anões se moviam à procura de equipamentos, as duas centelhas se apagaram de forma súbita. Em um instante desapareceram como nunca tivessem surgido. Poucos arqueiros já se encontravam em posição, mas Cibele e Lótus trocaram olhares e se decidiram sem emitir uma palavra.

— Lind, agora. - A segunda ninfa em comando dá a ordem.

— Não podemos esperar por vocês, a urgência aumentou. Permaneçam aqui, voltaremos logo. - Diz Cibele, enquanto Lind ativa um dos triângulos, que se abre como uma mandala, dobrando de tamanho. Vibrações percorrem o solo, e todos sentem a súbita mudança de pressão nos ouvidos. Em um instante, ninfas e anões desaparecem em um estalo doloroso de se ouvir, o ar preenche o súbito vácuo, e apenas o triângulo-mandala permanece. A estrutura dobra novamente, enquanto a estática aumenta. Faíscas saltam do triângulo, e tudo está acabado. O pequeno objeto metálico cai no chão, quente o suficiente para evaporar a água que encharca o solo.

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— Calebo?! Olá?! Você está me ouvindo? Responda!

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora