Cap.38 Violeta

13 4 0
                                    

— De novo! - A voz repetiu pela trigésima vez, inabalável.

Seus braços pendiam ao lado do corpo, sem forças. Suas pernas tremiam, os joelhos se dobravam involuntariamente. O suor há muito tempo deixou de ser algo incômodo, e sequer se importava em tirar os fios de cabelo na frente dos olhos. Aqueles eram problemas mínimos, se comparados com as dores nos ombros e a lombar em chamas. Mais uma vez, tentou reproduzir o golpe requisitado, e novamente a ponta da espada se enterrou no chão antes de completá-lo. O suspiro de desespero saiu entrecortado pela respiração irregular. Fechou os olhos e se esforçou ao máximo para evitar que as lágrimas caíssem.

— De novo! - A voz de Lotus se fez ouvir, sem qualquer variação no tom, como vinha acontecendo há meia hora.

Seus joelhos se dobraram, e podia sentir que dessa vez seria muito mais difícil se manter de pé. Não conseguiu evitar, e as lágrimas desceram por seu rosto. Pedir por favor não adiantaria, sabia disso. Acertar o golpe era a única maneira de terminar aquele dia de treino. Ergueu a espada, se posicionou, e iniciou o rodopio. Seu pé direito escorregou, a espada escapou de suas mãos, e Violeta caiu. A arma passou a meio metro de Lotus, que apenas esticou o braço e a segurou pelo punho. 

— Levante-se. Tente de novo.

Mas a ninfa não conseguiu se levantar. O ombro direito doía mais do que o normal. Conseguia sentir o chão se encharcando lentamente com seu sangue. Sua boca estava cheia de poeira, mas temia tossir; poderia começar a gritar de dor. Era como se colocassem carvões em brasa sobre seu quadril, e queimava, queimava, queimava... O sono tomava conta se sua mente. Ouvia Lotus falando, mas tudo o que queria era descansar, mergulhar em uma paz restauradora por algumas horas, sem se preocupar com as dores. Sentiu uma mão tocando suas costas, e choramingou, entre gemidos de dor. 

— Esse será o último golpe de hoje, precisa conseguir para enfim descansar.

— Eu não consigo, Lotus. - Violeta respondeu após recuperar o fôlego.- Por favor, não seja má e me deixe ir. Apenas hoje, eu prometo! Por favor, não me obrigue, está me destruindo há um mês!

As cãibras tomaram conta de suas coxas, a jovem ninfa nada conseguiu fazer além de abraçar as pernas e rolar pela poeira. Mas Lotus não parecia comovida. Aguardou por poucos minutos antes de erguer Violeta e colocar a espada em suas mãos. 

— Mais uma vez. - Repetiu, impenetrável.

— Por favor, eu não consigo!

— Se continuar pensando assim, jamais conseguirá se tornar uma guerreira do nosso nível. - Ficou de frente para a ninfa de olhos coloridos, segurando seus ombros.- Perna direita, giro, pulo, todo o peso concentrado na espada, golpeia enquanto pousa com a perna esquerda.

Era simples dizer, a jovem ninfa pensou. Estava frustrada e zangada com a professora insensível.

— Se quer tanto ver esse golpe, faça você mesma. - A garota respondeu. O empurrão, sem propósito algum de ferir, jogou Lotus na direção do tronco que servia como alvo para os golpes. A ninfa atingiu a madeira com as costas, girando no ar antes de cair, dois metros adiante. 

As duas se entreolharam com espanto. Lotus, sem ar, lutou para ficar de pé, ao passo que Violeta cobriu a boca com as mãos e evitou um grito de surpresa. 

— Me desculpe! - a garota balbuciou, temendo alguma represália da mulher.

— ... Ur... Você alcançou sua forma ascendente. - luzes dançantes passaram pelos olhos da ninfa, deixando-a alarmada e sem ação. Acho... que isso é suficiente. Pode ir, vá descansar.

— Você está bem? Precisa de ajuda? - Violeta deu dois passos. O olhar de Lotus fez com que recuasse três.

— Eu disse que pode ir. - A mulher respondeu, enquanto se sentava.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora