Cap.28 O alvo queimado

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O céu daquele planeta era lindo. Me lembro como se fosse ontem. Eu, na varanda do quarto, no quarto andar de um castelo de aspecto medieval, observava as estrelas. Fui agraciado com um raro momento de silêncio, mesmo que às duas horas da manhã. Esse lugar não era silencioso, os animais próximos dali não paravam quietos, principalmente os de hábitos noturnos. O zoológico estava ativo dia e noite.

Uma nuvem se arrasta vagarosamente pelo céu, sem pressa alguma em sua jornada sem rumo. Ela é a única por aqui. Uma nuvem perdida. Uma forasteira, ou uma pioneira talvez. Parecia comigo, e imediatamente criei certa afeição com a nuvem. Em algum lugar, um cão uiva, e parece esperar pela resposta de algum camarada. Não pareceu obtê-la.

Não havia conseguido dormir, ocasionalmente os planos do que fazer a partir dali dominavam os meus pensamentos, e o sono ia embora. Analisando agora, mais parecia o espectro pálido e triste de um plano de verdade, uma estrutura sustentada por teias de aranha.

— Você está fazendo o seu melhor. - Disse para mim mesmo.- Só lhe faltam opções. Opções...

Um pequeno doce surge na minha mão direita. Sorrio enquanto penso no que toda aquela velocidade de aprendizagem significava. Conseguia ler seis vezes mais rápido, já que em um teste, havia lido três livros ao mesmo tempo, ambas as páginas de cada livro ao mesmo tempo. A dor de cabeça após isso foi tão inexprimível que desisti por completo da ideia, a menos por enquanto.

Após muito tempo ali, parado, resolvi dormir um pouco. As coisas estavam melhores agora. Mais algumas horas e minha estadia ali completaria cinco dias. Minhas costelas pareciam estar no lugar novamente, mas doíam a qualquer movimento brusco. Melhor do que esperar mais de um mês, decidi por fim. Um meteoro risca o céu no momento em que a Fogueira das Horas, algo menos barulhento que um sino ou gritos, anuncia três horas da manhã.

Acordei em algum momento mais próximo do almoço do que do café da manhã. Parvapo parecia um lugar mais animado enquanto o medo aos poucos amainava. Saí para uma caminhada sem rumo, passando pelos fundos do castelo e seguindo adiante. O vale após o castelo era um campo de treinamento. Os soldados diziam que quanto pior o local de treino, melhores são as capacidades do soldado treinado. A água da chuva se acumulava nos pontos mais profundos, alagava muitos lugares e enlameava tudo, as moscas e mosquitos pareciam ter uma relação especial com aquele sulco pouco aprazível. Me sentei em uma pedra e observei o que acontecia abaixo. Talvez fosse o único lugar onde todos os militares do reino estavam na mesma situação. Nina estava lá, decapitando bonecos de palha, a ponto de arrancar lágrimas de desgosto dos garotos que substituíam os bonecos a cada quinze segundos. Finalmente não estava distribuindo seus sorrisos, concentrada na sua tarefa. 

A guarda real marcava presença ali, talvez trinta soldados, homens e mulheres, com o símbolo da espada dividida muito bem exposto. Cavaleiros amaldiçoavam suas vidas, enquanto Menegrario os amaldiçoava com muito mais furor. 

— O homem é perturbado! -  Disse um escudeiro que havia percebido meus olhares em direção ao coronel.- Ficou assim depois que perdeu a filha.

— O que aconteceu?

— Ah, ele nem sempre foi esse doido. Antes era um homem até que bem normal, treinava seus cavaleiros e vivia tranquilamente. Mas aí um dos cavaleiros que treinava se engraçou com sua filha mais velha. O homem tinha duas, bonitas. Ainda bem que saíram a cara da mãe, até o sorriso tímido era parecido. Bom, o rapaz levou um não, e como era um daqueles que nunca havia ouvido um não do papai cagão, resolveu ficar com a garota à força, entende o que quero dizer? - O tom de voz do escudeiro diminuía aos poucos enquanto contava a história.- Mas Van foi atrás do moleque, disposto a esfolar o idiota ainda vivo. Quando chegou na casa dele, destruindo tudo pela frente, a menina já estava morta. O coronel havia ensinado às filhas maneiras de se defender, e o paspalho sufocou a pobrezinha até a morte depois de levar uns socos e chutes bem acertados.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora