Cap.47 Uma viagem de duzentos anos

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Deixou os cavalos com a ninfa e se afastou dezenas de passos. O propósito da caminhada não era outro, senão preparar-se. Parou e se pôs de frente ao ogro, seu amigo. A espada de cabo branco surgiu em sua mão.

— Segure, por favor. - Obediente, Cabelo tomou entre as mãos. Askartrom também surgiu em sua mão, e Felipe tentou alguns movimentos arriscados.- Em proporção, essa espada está para você como essa aqui está para mim. Consegue fazer igual?

— Askartrom é muito pesada, essa branca é muito mais confortável. - Dito isso, reproduziu os movimentos com muito mais fluidez, apoiado na experiência, ao contrário do garoto que se agarrava à percepção elevada para evitar um vexame.

— Feita em Parvapo, um presente por uma boa ação. Eu acho. Bem, enfim, reconhece essa aqui?

A espada de anões sobressalente relampeja.

— Minha espada. Há alguns dias não a vejo.

— Sim... Diga adeus. - A gigantesca espada de lâmina dourada partiu a menor como se nada estivesse ali. Felipe lançou as metades na direção do rio. Puderam ouvir o assobiar do metal rodopiando pelo ar até se chocar contra a água.

— Mas, Mestre?! Qual a necessidade?! Preciso de uma arma se quiser que eu lute! - Os sentimentos do ogro se dividiram entre tristeza e transtorno.

— Eu sei. - Pegou a espada e a devolveu de imediato.- Estou presenteando você com essa espada. É sua agora. O cinto da bainha precisa de alguns ajustes, mas poderá usá-la para lutar, já que se sentiu confortável manejando. Aceite, é meu juramentado e recebe o que dou, estou certo?

— Mestre, jamais ousaria recusar. - Os olhos de Calebo brilhavam tanto quanto o metal cinzento de sua nova arma.

— Ah, mais uma coisa. Seria... bem, seria egoísmo da minha parte querer continuar com isso, ainda mais agora.

Felipe tirou o anel de nanopartículas. Vários minutos se passaram enquanto o garoto trabalhava na tela holográfica, mas por fim terminou.

— Qualquer letra aparece aos meus olhos como as do meu mundo, tecnicamente só vejo elas em sua forma real por alguns segundos, pelo canto dos olhos, então eu configurei alguns movimentos, mas não saberia por onde começar a traduzir esse negócio. Ponha no dedo, dois toques rápidos dos dedos médio e anelar sobre a palma da sua mão, e o holograma ativa. Você vai conseguir ver as opções e os comandos de movimentos para ativar. São muitas opções de armas e armaduras, quanto mais rápido memorizar o que fazer com os dedos, melhor. Se fiz um bom trabalho, o Um anel vai se adaptar ao seu dedo...

Tudo ocorreu da forma como o garoto disse. As nanopartículas redefiniram o tamanho do objeto para que coubesse perfeitamente. O ogro testou, e uma armadura completa se formou ao seu redor. Não era possível ver sua expressão, mas poderia-se presumir que estivesse autenticamente surpreso, em partes por experimentar aquilo, e também por todo o ajuste de contraste que o capacete sem aberturas proporcionava.

— Tá bem, agora é só estalar os dedos duas vezes. Tomei essa decisão como precaução, alguns movimentos são bem naturais, então deve fazer duas vezes, sempre. Er... enfim, você provavelmente nunca vai conseguir ler o que está escrito em algum lugar aí, mas saiba que esse presente é especial para mim, certo? Foi através dele que me dei conta da realidade e desisti da ideia estúpida de pensar que tudo isso não passava de uma grande aventura, foi através disso que percebi o ponto mais importante de todos.

— Qual? - Calebo perguntou, já sem armadura.

— Eu não vou parar de lutar, nunca, enquanto alguém precisar de mim, e não importa se mais alguém vai ver e guardar para a História. Porque se minhas ações necessitam da glória do reconhecimento, significa que já errei comigo mesmo.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora