Um bólido branco se incendiou no céu, iluminando o ambiente como a lua cheia na Terra. Se desintegrou em alguns segundos, e a noite mergulhou novamente na escuridão. O murmúrio do Grande Rio era quase inaudível, apesar da proximidade. Amélia estava em fase minguante, um fino arco marrom deslizando pelo firmamento.
— Acho que não me esqueci de nada. Agora a senhorita também sabe toda a história, com exclusividade! O que aconteceu em Parvapo, Ermitão, Thunderbird, luta em órbita, Askartrom... Talvez eu seja um idiota e confie muito rápido nas pessoas, mas sinto que posso contar para você.
Violeta fitava as minúsculas flores dançando ao sabor da brisa fraca. Felipe aguardou pacientemente. O garoto sabia que eram muitas informações para assimilar.
— Mais de mil e cem anos... - Sussurrou.- Ergueram Riína Taringa, destruíram, criaram uma lenda.
— Essa Pedra de Lakérfet. Tem ideia do que provavelmente é? Eu tenho. - Exibiu o anel dourado.
O silêncio foi quebrado pelo grito de Calebo. Um urro de raiva que esmoreceu apenas quando o fôlego acabou. Os jovens estavam perplexos demais para perguntar o motivo.
— Minha espécie quase foi extinta pelos seguidores de Hilco. Eram apenas cuidadores leais, não mereciam isso. Ruínas Antigas está afundada sobre mais ossos do que se poderia contar em uma vida, por uma mentira?!
Felipe levantou e caminhou até o amigo.
— Eu apenas posso tentar imaginar o quão frustrado você está. Não sou o Escolhido, até porque ele nunca existiu. Ninguém próximo à luta final sobreviveu para transcrever o que foi dito pelo Ermitão. Talvez todos desconfiem da história, mas a esperança de dias melhores faz com que se forcem a esquecer suas dúvidas. E... caso não queira mais ser meu juramentado, terá a minha compreensão.
O ogro negou com um gesto energético.
— Estou com raiva, mas isso jamais me fará esquecer o que vi, o que senti. Naquele momento, em Parvapo, não jurei minha espada ao Escolhido. Jurei a você.
— Pensei que se você soubesse, decidiria me abandonar.
— Jamais, Mestre. Vamos juntos até o final. Amigo. - Deram as mãos em um gesto de respeito ogrune. O garoto assentiu com um sorriso orgulhoso.
Hakuja retornou de alguma caçada noturna. Nenhuma pergunta precisou ser feita, pois percebeu pelas expressões que toda a história foi contada. Os quatro permaneceram em um círculo pensativo, sob a relva baixa e macia.
— Gostariam de ouvir uma piada? - O lagarto perguntou de repente.
— Ô dia estranho... Vamos lá, pode contar. - Felipe observava intrigado o movimento das plantas ao redor da ninfa. As folhas se viravam na sua direção, da mesma forma que ocorre com a luz do sol.
— Dois elfãs estavam viajando, quando um deles aponta na direção de uma pedra solitária. "Veja aquela pedra sozinha e imersa em tristeza", disse. "Eu lhe darei dez moedas de ouro se conseguir fazê-la pular de alegria com alguma piada. Caso não consiga, você me dará dez moedas". O outro elfã olhou para o amigo como se acabasse de ouvir o maior disparate. "Pensa que sou louco?! Aquilo não é uma pedra, e sim uma pilha de estrume!"
Calebo riu, esquecendo em um momento sua raiva. Violeta se permitiu um sorriso e um menear de cabeça. Felipe se sentia perdido.
— Eu sou um idiota por não perceber o humor?
— A piada é uma velha crítica aos elfãs e sua mania de procurar resultados e significados impossíveis em coisas que às vezes nem são o que parecem. Tanto que o segundo elfã reage dessa forma não pela proposta, mas pela pedra se tratar na verdade de estrume. - Hakuja explicou.
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Nas Ruínas Antigas
FantasyAté onde suas escolhas te levam? A contagem regressiva para o fim da existência já começou. Nos últimos movimentos do ponteiro, Felipe, um adolescente aparentemente comum, é transportado para um planeta em outro universo. Nesse mundo de múltiplas fa...