Cap.6 Vila dos Ogros

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Acordei muito bem disposto. 

Ainda não havia amanhecido, o céu ainda ganhava tons claros prenunciando um novo dia.

Fazia frio e toda a Floresta de Sequoias estava envolta em névoa. Um nevoeiro forte encobria todo o entorno, permitindo que se enxergasse apenas num raio de cinquenta metros. Abri a janela e fui muito mal recepcionado por uma garoa finíssima, que logo cobriu meus braços de gotículas d'água.

— Brrrrrr. Mas que frio lá fora!

— É assim em várias manhãs, não se preocupe. Mas logo melhora. Agora feche essa janela, o calor está indo embora mais rápido do que eu gostaria.

Grande dragão!

Fechei a janela e, muito a contragosto, esperei por quase duas horas até  amanhecer completamente.

Abri a porta e percebi que a névoa, assim como a garoa, já haviam se dispersado. A grama que rodeava o espaço em volta das casas dos ogros estava brilhante pelo orvalho da manhã. Milhões de diamantes brilhantes, espalhados entre as árvores. A mais bela manhã que presenciei até agora. 

A porta da casa do outro lado do gramado se abriu, revelando um casal de ogros que conversavam animadamente. Pararam e se calaram no mesmo instante em que me viram. Ele usava calça comprida e uma camisa de mangas curtas, marrons, e também uma faixa amarrada na cabeça, com as pontas descendo por trás da cabeça. Ela também usava calça, mas marrom claro, e vestia uma blusa de mangas compridas vermelha.

Nos analisamos mutuamente por alguns instantes, até que por fim o casal se decidiu, pegou ferramentas que presumi serem de uso agrícola, e caminharam pela grama molhada. Seus calçados simples faziam pouco barulho. Ao passar por mim, curvaram-se.

— Bom dia, mestre Felipe. - Disseram em uníssono.

— Oi. - Respondi, mesmo não assimilando o porquê daquela saudação tão respeitosa, enquanto passavam se curvavam novamente.

Estranho, muito estranho.

Nas outras casas, luzes escapavam pelas janelas, mostrando que todos os moradores dali começavam a acordar. 

Ao longo dos minutos, enquanto estava sentado numa pedra de bom tamanho perto da porta da minha nova moradia mais Ogros saíam de suas casas, todos com algum tipo de ferramenta. Ora estavam sozinhos, ora em duplas ou até mesmo a família inteira, fechando a porta da casa em seguida, e então, a casa mergulhava em um silêncio deprimente.

E se eu ficar sozinho?

A ideia não parecia das mais agradáveis. 

Meu amigo Netuno se pôs ao meu lado, e juntos víamos a mesma cena se repetir por várias vezes seguidas. Os ogros passavam, curvavam respeitosamente a cabeça, me chamavam de mestre, e seguiam seus caminhos. Dei um olhar interrogativo para o lagarto ao meu lado, mas ele parecia saber tanto quanto eu. Mas no fundo sabia.

— Calebo disse que eu podia ficar andando por aí, mas não sei não. O que você acha?

— Eu acho que estou com fome. Seu desjejum chega logo, Felipe, mas eu quero ir procurar pelo meu. Eu te encontro por aí.

Netuno sequer terminou de falar para se embrenhar pelo mato, desaparecendo logo em seguida.

Vi um ogro, velhinho e magricela passar por trás das casas.

— Ei! Senhor ogro!

Senhor...

O velhinho pareceu assustado, como se retirado de uma longa meditação. Bem, ao menos não era  surdo devido a velhice... perdoe-me, Deus!

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora