Capítulo 22

8K 725 426
                                    

Não troquei nem sequer um olhar com meu tio antes de pisar no tatame. Mas ele tentou, na verdade, ele quer muito falar comigo, mas sinto que nem ele sabe exatamente o que falar.

Sinto, do fundo do meu coração, que ele está arrependido. Mas não consigo esquecer o que ele escondeu de mim. Preciso de tempo, preciso digerir toda a situação e entender, e talvez, assim perdoar ele.

Na verdade, não é uma questão relacionada ao perdão. Eu já o perdoei. Mas estou magoada, e quem não ficaria? Confiei nele.

Fico mais magoada com ele do que com meu próprio pai, e isso se deve ao fato de que eu já podia esperar coisas assim vindo do meu pai, mas nunca, em nenhum momento, esperei algo assim do meu tio. Quer dizer, ele faz suas burradas, comete seus erros, mas quem não comete? Todo mundo é imperfeito, estamos aqui para aprender com os erros. Mas esconder algo assim não é um erro, é uma escolha. E me dói pensar que meu tio escolheu esconder isso de mim.

— Hoje vamos aprender a lição mais importante para um Cobra Kai. — meu tio começou.

— Cadê o sensei Kreese? — Falcão questionou.

— Não deveríamos esperar ele? — foi a vez do Arraia perguntar.

— E quem liga pra esse velho? — perguntei estressada. — Não faz falta nenhuma.

— O senhor Kreese não ficará mais com a gente.

Vi Miguel e Falcão trocarem um olhar de confusão mas nem me preocupei, porque estava distraída demais soltando um gritinho de comemoração.

— Sério, Megan? — Falcão perguntou frustrado, mas eu o ignorei.

— Qual é? — eu ri. — O cara é um imbecil. — pisquei para meu tio. — Parabéns velhote, fez algo sensato em muito tempo.

— Meg. — Miguel me repreendeu.

— Fiz uma promessa quando me tornei sensei: sempre fazer o melhor para vocês. Apesar de ser difícil para todos nós, ele não pensava da mesma maneira.

Concordei com a cabeça porque, dessa vez, Johnny estava certo. Foi ele quem incentivou Miguel a chutar a cara de Falcão naquele bosque, e por mais que Miguel já seja grandinho e não se deve deixar ser influênciado, ele foi. Ele estava começando a cair no papinho furado do Kreese, e fico feliz que meu tio tenha tirado Kreese daqui à tempo.

— Kreese pode ter fundado o Cobra Kai, mas ele não representa mais esse dojô. O Cobra Kai dele era velho e ultrapassado.

— Igual à ele. — concordei e escutei Miguel prender a risada ao meu lado. Olhei para ele no mesmo momento em que ele me encarava e vi ele corar, assim como me senti corar também.

— O que acontece quando não vamos para a frente, Megan? — Johnny me perguntou, continuando seu discurso.

— Estagnamos como cimento.

— Isso mesmo. É preciso se adaptar para ser um grande lutador. Seguir esse ensinamento, — ele apontou para a frase em sua parede. — deixará vocês fortes, vocês serão incríveis, mas também deixará vocês idiotas.

Concordei novamente, meu tio sabia exatamente o que estava falando. Ele seguiu os ensinamentos, ele sentiu o que eles podem fazer com você, e ele não quer isso para nós. Não quer isso para mim.

— Isso é só tinta preta numa parede branca, mas a vida não é preto e branco. Na maioria das vezes, é cinza. E é quando fica cinza, que o Cobra Kai de Johnny Lawrence, às vezes mostra compaixão. Não quer dizer que não podem ser durões, é o requisito, vocês têm que aprender a pensar, — ele fez uma pausa. — não com os punhos, mas com a cabeça. E é isso que nos leva a aula de hoje, — ele pegou um pedaço de madeira e a acertou forte em sua cabeça, quebrando ao meio. — cabeçada.

Soulmate • Miguel Diaz Onde histórias criam vida. Descubra agora