Parei na entrada da escola quando o vi.
Sua BMW preta parada em frente ao meu colégio e ele apoiado em seu carro, usando suas roupas casuais preferidas. Ele tirou os óculos quando me viu e acenou, me chamando para ir até ele, e eu, num ato covarde, pensei se seria tarde demais para correr de volta para a sala de aula.
Desci os degraus em passos lentos, olhando para os lados procurando alguém que possa me salvar ou algum buraco para me esconder. Paro em sua frente, com a cabeça baixa, com medo e vergonha de encarar seu olhar.
— Olhe para mim. — ele ordena e eu fecho os olhos, tentando controlar as lágrimas que já querem sair.
— Oi pai. — murmuro quando ergo meu olhar para ele e ele sorri, ou pelo menos tentei.
— Precisamos conversar. — ele diz isso e entra em seu carro novamente.
Olho para os lados e por fim volto meu olhar para ele, ele indica o assento ao seu lado com a cabeça, me convidando, ou melhor, mandando, que eu entre no carro logo. Pisco confusa algumas vezes e vou para o lado do passageiro, demoro para abrir a porta porque minhas mãos estão tremendo, mas por fim, e sem nenhum grito da parte de meu pai, eu consigo abrir. Me sento ao seu lado em silêncio e assim permanecemos até chegar em um restaurante, do lado nobre da cidade. Prendo um riso sarcástico quando percebo que um almoço nesse local pode sair mais caro que meu celular. Sim, claro que ele não me levaria para uma simples lanchonete, certo? Não agora que pode desfrutar do dinheiro da sua atual namorada, o dinheiro que ajudou ele a viajar pelo mundo.
Entramos no local ainda em silêncio e ele escolhe a mesa mais afastada para nos sentarmos, o que me deixa com medo de que ele queria gritar comigo. Coloco minha mochila no chão e me sento de frente para ele, encarando seu rosto em busca de algo que diga o que estamos fazendo aqui, mas não encontro nada. Ele quem pede nosso almoço, ele quem conversa com a garçonete, flertando com ela. Temos aqui um fato sobre meu pai: o cara é bonito demais para sua idade e quando chega em algum lugar, ele chama todas as atenções para si mesmo. Assim como minha mãe. Assim como eu. Acho que isso é a única coisa que temos em comum.
Quando ele termina de flertar com a mulher, que é linda por sinal, ele se vira para mim com um sorriso no rosto e eu arqueio a sobrancelha em sua direção e indico a garçonete com a cabeça.
— Você não está mais com a Madison?
— É sobre isso que vim conversar com você. — ele cruza os braços e se encosta na cadeira. — Terminei com a Madison, estou de volta na cidade.
Passo algum tempo processando sua nova informação. Ele está de volta. Certo. Por que? Para me xingar? Para prender minha mãe novamente?
— Por que? — pergunto num sussurro.
— Uma boa pergunta, filha. — ele murmura. — Veja só, quero recuperar o tempo perdido. — ele diz e eu o encaro surpresa e dou uma risada logo em seguida.
— Tudo isso por que minha mãe está de volta, né? — pego minha mochila do chão e me levanto rapidamente. — Escuta Joe, não vamos recuperar nada aqui. — grunho irritada. — Você não pode voltar agora, e decidir que quer recuperar a porra do tempo perdido, isso foi tudo que eu desejei ao longe desses oito anos, mas não desejo mais. Fique longe de mim, por favor.
Não espero para ouvir o que ele tem a dizer, não quero ouvir nada dele agora e nem sei se um dia eu vou querer.
Saio o mais rápido que posso do restaurante e vou para o ponto de ônibus, porque como meu pai me trouxe para a porra de um restaurante do outro lado da cidade eu não posso e nem consigo ir para a casa a pé.
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Soulmate • Miguel Diaz
FanfictionOnde Miguel não consegue esquecer Samantha ou Onde Megan está decidida a não se envolver com seu vizinho