Eu não conseguia acreditar o que tinha acabado de escutar. Não conseguia acreditar que meu pai e até mesmo Johnny esconderam isso de mim por tanto tempo, na verdade, não consigo acreditar que mentiram sobre algo tão sério.
Ainda estava paralisada, olhando para a parede e tentando digerir o que tinha acabado de escutar. Queria gritar, mas nada saia. Queria gritar o quanto eu odeio o mundo, o quão injustas as coisas são, e o quão inútil eu sou. Como não tinha desconfiado disso antes? Como eu não soube interpretar as coisas?
Vejam bem, o que meu tio me contou me fez querer chorar, gritar, vomitar e me trancar no quarto pelo resto de minha vida.
Mamãe não morreu.
Nada nunca tinha acontecido com ela. Tudo foi uma invenção. Por isso não fui ao enterro, porque não teve um. Mamãe estava internada em um hospital psiquiátrico à anos, oito anos, para ser exata. E eu nunca soube disso.
Meu pai inventou tudo, e meu tio era seu cúmplice. O que eu não conseguia entender era o por que disso, por que me afastar da minha mãe? Por que inventar uma história horrível assim?
Meu pai era um monstro, e minha ficha só caiu agora. Comecei a chorar descontroladamente, e me afastei quando meu tio tentou se aproximar, afinal, ele sempre soube de tudo. Ele me ouviu reclamar o quão mal papai me tratava e nem sequer pensou em dizer que eu tinha uma mãe por aí, que eu ainda tinha alguém que me amava como eu nunca fui amada.
Mas a questão é, ela me ama? Ela se lembra de mim? Ela está sã? Ela sente minha falta e pensa em mim todos os dias? Eu precisava saber.
Me levantei rapidamente e limpei minhas lágrimas, sem olhar para meu tio, falei: — Preciso de um tempo.
E sai de casa.
Não andei muito antes de desabar em lágrimas, me sentei encostada na parede de uma casa qualquer e chorei. Meu corpo todo tremia e minha respiração falhava, mas eu não conseguia e nem queria parar. Não sei por quanto tempo fiquei lá, sentada e chorando. Eu mesma consegui me acalmar, não precisei de ninguém dessa vez, e me orgulho disso.
Sabia que não podia ir para a casa, mas não tinha um lugar onde ficar, Aisha estava viajando, Moon iria num restaurante com seus pais e Tory não fala muito sobre sua família, então é óbvio que seria inconveniente de minha parte me auto convidar para ficar lá. Me levantei de onde estava, minhas mãos suadas e meu rosto ainda molhado de lágrimas, limpei minha calça que provavelmente estava suja e refiz o caminho para minha casa, mais especificamente para a casa de Miguel.
Não pensei muito antes de bater em sua porta e quando ele atendeu comecei a chorar novamente, dessa vez em seus braços.
Não sabia exatamente porque estava procurando Diaz. Na verdade, eu sabia sim, mas não conseguia admitir que só a presença dela já me acalmava.
Ele me puxou para dentro da casa e fechou a porta. Me sentou no sofá e se sentou ao meu lado, me abraçando novamente e murmurando que tudo iria ficar bem, ri com isso, porque ele não sabia o que tinha acontecido, então como poderia falar isso?
Miguel ficou passando as mãos por meu cabelo até eu me acalmar e quando eu o fiz, levantei minha cabeça de seu ombro e vi dois pares de olhos me encarando assustados, a mãe e a vó de Miguel.
— Ah que vergonha. -—resmunguei e enterrei a cabeça no pescoço de Miguel.
— Não precisa ter vergonha nenhuma Megan. — a mãe de Miguel falou. — Olha, preparei um chá pra você.
Levantei a cabeça correndo e peguei o chá, murmurando um "obrigada tia". Miguel me levou para o seu quarto e fechou a porta, enquanto eu ainda bebia meu chá.
— Você tá melhor? — ele perguntou.
— Sim. — sussurrei. — Me desculpe por isso, eu só te dou dor de cabeça.
— Nunca mais diga isso Megan. — ele juntou nossas mãos. — Quer me contar o que aconteceu?
Concordei com a cabeça. Seria bom dizer isso em voz alta e não guardar isso apenas para mim. Joguei tudo para cima de Miguel, contei tudo que meu tio havia me contado hoje e quando terminei, estava chorando novamente.
Para mim, coisas assim só aconteciam em livros ou filmes, nunca que eu imaginei que algo assim aconteceria na vida real, muito menos comigo. Eu passei oito anos da minha vida achando que minha mãe estava morta, quando na verdade meu pai havia internado ela e mentido para mim. Ele quem deveria estar internado, ele que é o louco aqui.
Miguel me encarava assustado, provavelmente tentando entender se isso é uma brincadeira ou não. Quem dera fosse, Diaz.
— Megan eu... Meu Deus não sei o que te dizer, sinto muito por isso. Não acredito que seu pai fez algo horrível assim e que o sensei escondeu isso de você e.... Céus, Megan.
— Pare de falar, Diaz. — reclamei. — Escuta, não quero olhar para a cara do meu tio..
— Você pode dormir aqui. Não tem problema.
Eu apenas concordei com a cabeça me encolhendo em um canto de sua cama. Ele passou suas mãos em minha perna, me fazendo o carinho confortável.
— Vou ir na casa do sensei pegar algumas de suas coisas. — ele murmurou.
E ele saiu. E eu chorei mais. Tudo que eu queria fazer era deitar e chorar para sempre. Porque eu não consigo entender o que eu fiz para meu pai, por que ele é assim?
Não sei por quanto tempo eu chorei mais, só parei quando Miguel entrou novamente em seu quarto e tirou meu cabelo do meu rosto.
— Peguei suas coisas, linda, você pode ir tomar um banho enquanto eu esquento o jantar para você.
— Eu não tô com fome, Diaz. — sussurrei.
— Mas vai comer nem que seja um pouco, vem, — ele esticou seus braços. — eu te levo no colo até o banheiro.
Quando ele disse isso eu sorri e me joguei em seu colo. Ele de fato me levou até o banheiro, tomei um banho demorado e aproveitei para chorar mais um pouco. Quando eu saí, Diaz e sua mãe estavam na cozinha, provavelmente falando algo sobre mim.
— Tia tem certeza que não vai incomodar eu dormir aqui hoje? Qualquer coisa eu vou para a Moon e...
— Não se preocupe meu bem, você não incomoda nunca.
Me aproximei da mesa e me sentei ao lado de Miguel, encarei o prato por algum tempo, parecia estar bom, mas eu não estava com apetite para nada. Só comi quando Miguel me disse: — Se você comer isso eu assisto todos os episódios de The Walking Dead com você.
E eu comi.
Já era tarde quando fomos ao seu quarto, que era onde eu iria dormir.
— Meg, a cama tá arrumada, vou estar lá no sofá se precisar de...
— Você não vai dormir aqui? — perguntei confusa.
— Eu não tenho colchão e...
— Cale a boca, Diaz, você dorme na cama comigo, nada mais justo já que estou te atrapalhando.
— Você nunca me atrapalha, Megan.
Deitei no lado da parede e Miguel se deitou ao meu lado, sua cama era de casal, então era espaçosa o suficiente para nós dois. De início ele estava rígido, mas foi relaxando durante um tempo, relaxou ainda mais quando peguei um de seus braços passando por minha cintura para que dormissemos de conchinha. Seu nariz estava em minha nuca e eu arrepiava cada vez que ele respirava, mas era bom estar ali. Era bom ter Miguel. Qualquer coisa com ele é boa.
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Soulmate • Miguel Diaz
FanfictionOnde Miguel não consegue esquecer Samantha ou Onde Megan está decidida a não se envolver com seu vizinho