Capítulo 7

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Sempre me senti muito sozinha.

Meu pai foi presente até certo ponto da minha vida, pelos meus cálculos, até o dia em que ainda morávamos aqui. Quando nos mudamos, ele passou a me excluir, certas vezes me ignorava ou me deixava sozinha em casa, eu tinha onze anos e tinha que me virar para achar algo para comer ou para fazer algo difícil sozinha.

Papai nunca mais me ajudou nas atividades escolares, nunca mais perguntou como foi meu dia, e nunca mais, olhou em meus olhos.

Eu sabia que ele foi viajar para se afastar de mim, sabia que ele não se importava o suficiente para mandar alguma mensagem para saber se estou bem. Eu entendia. Eu não devia ficar esperando migalhas dele, mas porra, eu espero. Todos os dias.

Fico contente quando ele apenas me deseja bom dia, ou quando olha em minha direção quando falo com ele, fico contente porque sei que isso é o máximo que terei dele, porque ele mudou, e seja quem for esse novo pai, ele não me ama. Não como eu o amo, porque merda, ele segue sendo meu pai.

Estava olhando para o celular, esperando, por uma mensagem, uma ligação, um pedido de desculpas, alguma coisa dele. Mas não havia nada. E eu queria chorar, queria gritar, porque eu não consigo entender qual é o meu problema, qual o meu defeito? Por que ele não conseguia me amar mais? Por que eu não era mais a princesa dele?

Não consegui chegar no meu quarto antes das lágrimas descerem, então tudo que fiz foi me deitar no sofá, e chorar. Escutei a porta se abrindo e meu tio chegando, mas não fiz nada, só continuei chorando.

— Meg! — meu tio se aproxima — Meu deus, Meg, o que aconteceu com você? Por que está chorando? Foi o Miguel?

Consegui balançar minha cabeça em negação. Quem dera fosse, tio. Seria mais fácil de lidar.

Meu tio se sentou no chão e ficou ao meu lado até as lágrimas cessarem, e eu fiquei tão grata por isso. Eu tinha alguém, afinal de contas.

— Meu pai não me mandou mensagem. Na verdade, meu pai não se importa comigo. — sussurrei.

— Ele deve estar ocupado ou talvez algo tenha acontecido.

— Não, tio, você não entendeu. Ele não se importa comigo desde quando fomos embora. Ele me ignora, me trata mal, e às vezes, chega a realmente esquecer que eu existo.

— Meg, — meu tio lamenta — ah garota, eu sinto muito, céus, seu pai é um estúpido. O que posso fazer por você agora?

— Pode só, — suspiro — esquecer que te contei isso? Não quero que pense que estou sendo dramática.

— Mas você não está. Meg, sou seu tio, não pai, sei que ninguém substitui isso, mas enquanto estiver morando sob meu teto, eu prometo ser melhor que ele.

Concordei com a cabeça e voltei a chorar. Chorei tanto que cheguei a dormir, e só acordei, não sei se horas ou minutos depois, no meu quarto, meu tio tinha me levado ali?, escutando alguém conversar lá fora, provavelmente na sala.

Peguei meu celular e vi que já se passava das oito, e me assustei quando lembrei que tinha combinado algo com Miguel, ah céus, seria ele lá fora?

Sai do meu quarto timidamente e vi meu tio e Miguel conversando, meu tio que me viu primeiro, atraindo também a atenção de Miguel para mim, meu amigo veio correndo em minha direção e me pegou pelos ombros.

— Meg, como você está? — ele sussurrou.

— Eu bem, Miguel, eu vou só tomar um banho e a gente vai, meu deus, me desculpa eu...

— Você não está bem e a gente não vai para lugar nenhum. — meu amigo se virou para meu tio e disse: — Vamos estar no quarto dela, sensei.

Miguel praticamente me jogou dentro do meu quarto e fechou a porta, fiquei o encarando querendo rir, mas não ousei fazer isso.

Me joguei em minha cama e ele se sentou ao meu lado. Me encarou por alguns segundos e depois pegou em minha mão, fazendo com que eu segurasse um suspiro.

— Meg, eu sei que nos conhecemos a muito pouco tempo, mas quero que você saiba que estou aqui com você.

— Eu sei disso, Diaz. Não se preocupe, é sério.

— Eu quero mesmo ser seu amigo, Meg. Portanto, me preocupo.

–— Olha Diaz, não sei o que meu tio te disse, mas é sério, não foi nada preocupante, podemos esquecer isso?

— Certo, — ele sussurrou — que tal assistirmos um filme aqui mesmo? Sem sair.

— Ah eu ia te levar pra um lugar incrível, Diaz. — faço drama e apoio minha testa em seu ombro, sinto ele rir.

— Podemos ir outro dia, Meg, mas por hora, deixo você escolher o filme.

Levanto correndo e pego meu computador, logo na netflix e escolho um filme que estava na minha lista a algum tempo.

Miguel tira seu tênis e deita em minha cama, faço o mesmo deitando minha cabeça em seu ombro e iniciando o filme.

Quando o filme chegou ao fim olhei para cima e me deparei com Miguel dormindo serenamente, passei meus dedos por seu rosto, sentindo sua pele quente contra a minha. Soltei um suspiro fraco e me levantei devagar, tentando não acordar meu amigo.

Quando sai do meu quarto me deparei com meu tio sentando no sofá encarando a minha porta.

— O que foi?

— O que vocês fizeram lá?

— Assistimos filme. Na verdade eu assisti.

— E o Miguel fez o que? — meu tio perguntou assustado — Caralho, porque ele não assistiu o filme? Megan!!

— Velhote, ele dormiu. Só dormiu.

— Acho que ja esta na hora dele ir embora. — meu tio entrou no meu quarto e segundos depois ele saiu de lá, com Miguel logo atrás dele com uma cara fofa de sono.

— Céus, o que custava deixar o garoto dormir?

— Já é tarde, a mãe dele está preocupada.

— Na verdade ela sabe que eu estaria com a Megan.

— Diaz, pra casa, agora. — meu tio grita, assustando eu e Miguel.

Alguns segundos depois Johnny vai para seu quarto, batendo a porta, feito uma criança birrenta. Eu e Miguel nos encaramos e logo começamos a rir.

— Ele é tão dramático. — digo.

— Pra caramba. — Miguel ri mais ainda — Mas acho que ele está certo, preciso ir.

— Tudo bem, Diaz. Obrigada por hoje.

— Sempre que precisar, senhorita. — ele me faz uma saudação e eu rio, indo até ele e deixando um beijo em sua bochecha.

— Boa noite, Miguel. — sussurro, ainda perto o suficiente dele para sentir sua respiração em meu rosto.

— Boa noite, Meg. Fica bem.

Assim que ele saiu, me encostei na porta e suspirei, quando olhei para o corredor meu tio estava lá com os braços cruzados e me encarando com uma sobrancelha arqueada. Bufei irritada e fui para meu quarto, batendo a porta. Talvez eu também pareça uma criança birrenta, afinal de contas.

Soulmate • Miguel Diaz Onde histórias criam vida. Descubra agora