Capítulo 36

5.2K 476 98
                                    

Minhas mãos suavam tanto que eu já tinha desistido de tentar limpá-las, mas não tinha desistido de segurar as lágrimas que estavam desesperadas para sair.

Eu estava dentro do hospital, ao lado do amigo padre de meu tio e da médica, que nos conduzia para a sala de vistas. Meu tio e Diaz me esperavam ansiosos do lado de fora, e eu, estava ansiosa, ou mais do que isso, do lado de dentro.

Não poderia ficar sozinha com mamãe, mas o padre, ou o que quer que ele seja, me prometou que faria o possível para manter distância de nós, nos deixar sozinhas.

Assim que fizemos a curva para por fim entrar na sala de visitas, prendi minha respiração e pensei que poderia apenas dar meia volta e esquecer toda essa merda, mas eu não queria, não podia. Estava nervosa, com medo e totalmente assustada, mas precisava ver minha mãe. Ver como ela estava, relembrar por fim a cor de seus cabelos e o som de sua voz, sentir seu cheiro mais uma vez.

O amigo de meu tio parou em minha frente com um sorriso agradável e balançou a cabeça, tentando dizer que tudo iria ficar bem, mas ficaria? Quer dizer, mamãe estaria bem o suficiente? Ela me reconheceria? Eu iria conseguir tirar ela de lá? Ninguém podia saber isso, ninguém podia saber se as coisas ficariam bem, mas eu gostaria, gostaria mesmo de saber isso.

Sorri para ele e prendi meus cabelos em um rabo de cavalo quando a enfermeira abriu a porta e eu paralisei em meu lugar quando vi uma mulher, de cabelos longos e escuros, mais escuros do que tudo que já vi, parada, olhando para a janela e perdida em seus pensamentos.

— Sua visita chegou Senhora Lawrence. — a enfermeira a avisou.

Minha mãe ficou parada por mais alguns segundos e quando se virou para nós, com um sorriso sincero, eu senti vontade de chorar.

— Já disse para me chamar apenas de Emma. — respondeu mamãe. — E então, quem é você, mocinha?

Ela não me reconheceu? No fundo, eu esperava que o fizesse, que quando olhasse para mim ela começasse a chorar de felicidade e dizer o quanto sentiu minha falta. Porque eu senti falta dela, não é como se eu me lembrasse de tudo sobre ela, mas me lembrava do que fomos, de como ela fazia eu me sentir, de como nós três éramos felizes. Não lembrava a cor de seu cabelo, ou o tom de sua voz, muito menos de seu cheiro, mas lembrava do fomos uma para outra, lembrava de como ela me olhava com tanto amor que fazia meu coração quase derreter.

— Oi, — eu sorri fraco. — meu nome é Megan.

Ela sussurrou meu nome várias vezes, se lembrando de algo, talvez, e eu senti a esperança invadindo meu coração.

— Esse nome, — ela começou. — é o nome da minha filha, minha linda Megan, — sorriu. — quer ver alguns desenhos que fiz dela, Megan?

Ela não esperou eu responder quando saiu correndo por um corredor, que provavelmente levava aos quartos, troquei um olhar com o padre e ele apenas confirmou com a cabeça, e então fui correndo atrás dela.

Voltei para trás como se tivesse batido em algo quando vi os desenhos colados na parede do quarto de minha mãe, era eu, em todos eles, cada um mais lindo que o outro e senti vontade de gritar com ela, perguntar como ela não me reconheceu, dizer que estou aqui, bem aqui em sua frente, esperando ela me olhar, me olhar de verdade e ver que sou eu, sou a sua Megan.

Ela se virou para mim, ainda sorrindo mas com confusão explícita em seu olhar, confusa com o que? Eu queria perguntar, mas sabia que tinha que ir devagar, não poderia soltar tudo em cima dela de uma vez.

— Você me lembra ela. — ele disse.

É porque eu sou ela.

— O que faz aqui, Megan?

— O que você faz aqui? — perguntei. — Você está bem, muito bem, aparentemente.

Então ela olhou para todos os lados e se sentou em sua cama, me puxando pela mão para que eu me sentasse ao seu lado, e foi só nesse momento que percebi seus lindos olhos verdes e me lembrei de como gostava de ficar olhando para eles e imaginando como eu seria se os meus também fossem dessa cor, não castanhos como o de meu pai. Lembro de como eu queria ser igual ela quando crescesse, ter seus olhos - o que sempre será impossível -, seu sorriso, e principalmente, sua energia, a energia que ela emana até hoje.

— Porque eu estou mesmo bem, Megan. — ela sussurrou. — Também não sei o que faço aqui, já se passaram oito anos e ainda não entendi.

— Você, — eu comecei. — me conte sobre você, Emma.

E então ela abriu mais uma vez seu belo sorriso, e pela terceira vez no dia, eu quis chorar.

— Eu desenho, — ela piscou para mim. — mas isso já está óbvio, gosto de desenhar minha filha, principalmente, sinto falta dela. Era. Foi ele quem me deixou aqui.

— Sinto muito. — foi a única coisa que consegui dizer. — Sabe, por tudo.

— Você não tem culpa, querida.

Sim, eu tenho, sei que tenho porque eu podia ter feito mais por ela, podia ter ligado os pontos e descoberto isso antes, antes de ela se esquecer de mim.

— Você realmente me lembra tanto ela. — ela murmurou, passando seus dedos leves por meu rosto.

Prendo minhas respiração e sem pensar muito, saio correndo. Passo pelo corredor, pela sala de visitas e pelo amigo de meu tio que me encarou assustado, passo por todos os lugares que passei na ida e quando chego do lado de fora, solto as lágrimas que tanto segurava.

Fui assim, aos prantos, para o carro de meu tio, e ele e Miguel me encararam assustados quando viram minhas lágrimas, nenhum dos dois falou nada quando pedi para sair dali.

Ao invés de ir para a casa, meu tio parou em uma lanchonete e foi até lá para, segundo ele, ligar para seu amigo, e para pegar alguns lanches para nós. Miguel não demorou muito para passar para o banco do motorista e juntar nossas mãos, seus olhos demonstravam preocupação mas ele não disse nada, porque ele sabia que queria espaço e que falaria com ele sobre isso quando quisesse.

Quando meu tio voltou, Miguel ainda estava ao meu lado, segurando minhas mãos, então ele entrou do banco de trás e nos entregou nossos lanches e um refrigerante para dividirmos, abri um sorriso fraco para os dois e então comecei a falar.

— Ela está bem, — comecei e dei a primeira mordida em meu lanche que estava cheio de bacon. — quer dizer, ela está realmente bem, não há nada de errado com ela.

— Então por que ela está lá? — meu namorado pergunta. — Ou melhor, como seu pai conseguiu colocar ela lá?

Nós dois nos viramos ao mesmo tempo para meu tio, imaginando que talvez ele possa saber de algo, mas pela cara assustada dele, ele nem faz ideia do que realmente aconteceu.

— Posso conseguir descobrir isso. — Johnny falou.

— Pode? — pergunto devagar.

— Eu disse que faria de tudo para te ajudar, — ele sorriu para mim. — e vou fazer, até mesmo confrontar seu pai mais uma vez.

Soulmate • Miguel Diaz Onde histórias criam vida. Descubra agora