Capítulo 45

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Não sabia se era eu ou outra pessoa que estava gritando, muito menos sabia como eu cheguei ao lado do corpo de Miguel tão rápido.

Coloquei minhas mãos sobre a boca me recusando à acreditar que algo assim tinha acontecido, me recusando à acreditar que era Miguel Diaz caido bem na minha frente, inconsciente e com o corpo todo machucado.

Eu sabia que eu estava gritando algo, sabia que murmurava um monte de palavrões enquanto gritava para alguém chamar a ambulância ou fazer alguma coisa, senti a presença de alguém ao meu lado e me virei para encontrar Falcão me encarando com preocupação, ele falava alguma coisa mas eu não conseguia entender ou escutar o que era.

Longos minutos se passaram até eu escutar por fim o barulho da sirene da ambulância e me levantar correndo para dar espaço aos médicos. Enquanto colocavam Miguel na maca eu permanecia abraçada a minha melhor amiga enquanto ela murmurava para mim que tudo ficaria bem, e eu desejei, do fundo do meu coração, que ela estivesse certa.

Me afastei dela quando começaram a levar meu garoto para a ambulância, mas fui impedida quando tentei entrar na ambulância junto com ele. Revirei os olhos para a enfermeira prestes a mandar ela ir a merda, mas Moon foi mais rápida e me puxou para longe.

— Eu levo você lá, — ela diz calma. — não vão te deixar entrar na ambulância, de qualquer forma.

Não disse mais nada, apenas concordei com a cabeça, Adam veio logo atrás de nós e entrou no banco de trás, nenhum dos dois disse nada quando comecei a chorar em silêncio. Chorei porque fui usada e também chorei porque correria o risco de perder Miguel.

Me assustei quando percebi que o carro de Moon não tinha parado em frente ao hospital, mas sim em frente a minha casa. Me virei correndo para ela, prestes a exigir que ela me levasse agora para o hospital.

— Eu vou te levar lá, — ela prometeu. — mas você precisa de um banho primeiro e precisa comer. Te conheço o suficiente para saber que, quando chegar lá, não vai mais querer sair.

Moon e Adam saíram do carro e entraram em minha casa, fiquei parada por alguns segundos, mas logo os segui.

Assim que entrei vi os dois parados encarando Robby, que parecia estar assustado, passei pelos meus amigos e parei em frente ao meu primo, que percebi que segurava as lágrimas.

— O que você tá fazendo aqui? — perguntei entredentes.

— Eu vim pegar algumas coisas e... e tentar ver você.

— Já me viu, agora dê o fora.

— Meg, eu não queria ter feito aquilo. — ele falou num sussurro.

— Mas fez, — gritei. — e não há nada que você possa fazer para consertar isso, priminho. Miguel está no hospital agora, provavelmente correndo risco de vida, e sabe por quê? — perguntei. — Porque você não sabe quando parar. Ele tinha mostrado compaixão, Robby, ele não ia mais te machucar e mesmo assim, — chorei. — mesmo assim você o empurrou e, — solucei. — só saia daqui, Robby. Nunca mais chegue perto de mim.

Não esperei para ver se ele ia mesmo sair, apenas fui ao banheiro e me tranquei lá, chorando até não restar mais lágrimas.

Não esperei para ver se ele ia mesmo sair, apenas fui ao banheiro e me tranquei lá, chorando até não restar mais lágrimas

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Já era noite e nenhum médico veio até nós nos dar uma notícia de Miguel. Sua mãe chorava descontroladamente, sua vó tentava acalmar a filha e eu e meu tio estávamos sentados, minha cabeça descansando em seu ombro e ele fazendo carinho em minha mão.

Eu sabia como ele estava abalado, mais do que eu, talvez. Ele se sentia culpado por ter ensinado Diaz à ter compaixão e se sentia culpado, porque querendo ou não, Diaz estava no hospital por causa de seu filho.

Tia Carmen ignorou meu tio o tempo inteiro, provavelmente pensando o mesmo que ele, que era culpa dele. Mas não era, era culpa minha. De Robby. Culpa da Samantha.

Todos nós nos levantamos quando a médica por fim apareceu, coloquei as mãos no bolso da minha calça para tentar fazer com que elas não tremessem, mas elas só tremeram mais quando a médica nos disse que o quadro do meu garoto era crítico e que às próximas vinte e quatro horas eram mais críticas ainda.

Joguei minha cabeça para trás tentando impedir as lágrimas de descerem novamente, em partes porque eu tinha que ser forte por todos naquela sala e em outras porque eu não aguentava mais chorar. Abri meus olhos, que estavam fechados, quando Carmen dirigiu as palavras ao meu tio.

— Sente? Sente muito mesmo? Antes do Miguel te conhecer ele era um garoto tão bom, ele evitava brigas, agora olha o que você fez. Eu nunca mais quero olhar para você.

Pensei se deveria dizer algo mas não, não deveria, porque ela estava sofrendo e a dor dela era maior que a de todos nós, porque ela era mãe.

Ela passou por mim e colocou a mão em meu ombro: — Você vai ficar, não é?

Concordei com a cabeça tentando abrir um sorriso mas falhando, fui em direção ao meu tio e lhe dei um abraço apertado. Eu só queria mostrar pra ele que tudo ficaria bem, que ele não era o culpado por isso e que, ele era bom. 

— Vai ficar tudo bem. — murmurei. — Isso não é culpa sua, tio.

Não sei se ele acreditou em mim.

Me afastei de meu tio, pensando que deveria lhe dar espaço para pensar e que eu também precisava de espaço.

Encontrei um local vazio e me sentei lá, no canto e no escuro, apoiei minha cabeça na parede e respirei fundo, pensando em como as coisas podiam mudar de um dia para o outro.

Peguei meu celular, decidida a não ficar pensando muito nisso. Abri minhas mensagens e vi que todos os meus amigos tinham mandado uma, decidi então, que eu ao invés de responder um por um, eu deveria ligar para eles. E eu fiz.

Sorri quando Aisha, Moon, Adam e Falcão apareceram na tela, mas meu sorriso se fechou quando vi que Falcão estava no dojô.

— O que você está fazendo aí? — perguntei para o garoto.

— Kreese está aqui com a gente, ele vai nos treinar agora considerando que seu tio nos abandonou e que Miguel está no hospital por causa dele.

— Não ouse culpar meu tio por isso, — grunhi. — e vê se para de ser tão imbecil, espero que o Kreese ferre com todos vocês. 

Não esperei ele responder porque exclui ele da chamada, Moon me encarava com admiração no rosto enquanto Adam e Aisha me olhavam com pena.

— E então, como nosso garotão está? — Adam perguntou.

— Péssimo. — murmurei. — A médica disse que as próximas vinte e quatro horas são bem críticas, tudo que nos resta é ficar esperando.

— Sinto muito, Meg. — Aisha disse.

— Não é sua culpa. — sorri fraco para ela. — E então, como estão?

— Vocês não vão acreditar, — Aisha começou. — meus pais estão tão bravos que vão me mandar para um colégio interno só para meninas.

Eu e Moon fizemos uma careta quando Aisha disse isso, mas Adam riu e eu revirei os olhos, rindo também. Porque era bom ouvir algo assim agora, uma risada, nem que seja a de Adam.

— Sinto muito por isso, Aisha. — eu e Moon falamos.

— Vou dar um jeito de voltar, — ela deu de ombros. — tenho que ir, prometo entrar em contato.

Então nos despedimos dela, desejando boa sorte e dizendo o quanto a amávamos.

— Não precisa ir trabalhar o resto da semana, viu? — Adam falou para mim e eu sorri em agradecimento para ele. — Já falei com minha mãe, pode descansar e tal.

— Obrigada. — murmurei e ele concordou com a cabeça, saindo da ligação e deixando apenas eu e Moon.

— Ele vai sair dessa, não é? — perguntei para minha melhor amiga.

Eu precisava ouvir que sim, precisava que alguém me dissesse que tudo iria ficar bem, porque talvez assim eu acredite que não vou perder ele de vez.

— Ele vai.

Soulmate • Miguel Diaz Onde histórias criam vida. Descubra agora