Minhas mãos tremiam e eu prendia a respiração enquanto esperava meu pai atender a minha ligação.
Decidi que se ele não fosse escutar meu tio, ele teria que me escutar, escutar tudo que tenho que falar para ele.
Eu estou com medo, para ser sincera. Muito medo que penso em desligar essa merda e arrumar outra maneira de tirar minha mãe daquele hospital, mas eu tinha que o enfrentar, não é mesmo? Porque desde que tudo começou a mudar entre nós, eu sabia que em algum momento teria que o enfrentar, e bem, o momento chegou.
Soltei um suspiro fraco quando percebi que ele tinha atendido a ligação e pensei se era tarde demais para desligar.
— Oi, pai. — murmurei.
— O que você quer? — ele pergunta.
— Conversar, é, eu quero conversar com você.
— Se for sobre sua mãe... — ele começou à dizer, mas eu o interrompi.
— Sim, é sobre ela e sobre nós dois. E você vai me escutar, pai, pelo menos dessa vez. — esperei ele dizer algo ou desligar em minha cara, mas como só continuei escutando sua respiração, eu continuei o que tinha para falar. — Por um tempo, — soltei um fraco suspiro. — por um longo período de tempo, eu pensei que eu era a culpada por você me tratar como me trata, mas agora eu percebo que eu não tenho culpa de nada, pai, — sua respiração ficou mais rápida e eu fechei os olhos. — não tenho culpa porque nada justifica alguém tratar a filha como você me tratou. Não sei o que aconteceu com você, com a gente, não sei porque de um dia para o outro eu comecei a significar tão pouco para você e não sei se quero saber, não mais.. — prendo a respiração e deixo algumas lágrimas cair. — Eu estou te ligando para dizer que eu não odeio você, não consigo te odiar, nem mesmo depois do que você fez com a mamãe. — deito na cama e fito o teto. — Estou ligando para dizer que preciso dela, pai, preciso da minha mãe e que se você fizer isso, se ligar lá e dizer que meu tio está indo tirar ela, eu vou te deixar em paz, como você sempre quis, ou quase sempre quis, tanto faz. Eu não tive você, pai, então me deixe ter ela.
Esperei por alguns segundos e pensei em desligar quando ele não disse nada. É claro que ele não entenderia e provavelmente estava com vontade de rir das coisas que eu disse, fechei os olhos e estava prestes à desligar a chamada quando ele falou meu nome.
— Megan, — falou num sussurro. — entrarei em contato com eles hoje. Sinto muito que tenha pensado que não significa nada para mim.
E então ele desligou, me deixando perdida em meus próprios pensamentos. Não consigo entender o porquê de ele sentir muito sendo que ele nunca fez nenhum esforço para que eu pensasse ao contrário.
Enfio a cabeça no travesseiro e grito, mas grito de felicidade, porque mamãe vai poder vir para a casa.
No domingo, eu estava no hospital com Miguel quando Moon me ligou animada, dizendo que eles estavam arrecadando bastante dinheiro para a cirurgia de Miguel.
Confesso que quando soube que ele poderia fazer uma cirurgia, fiquei com medo, medo de dar errado e mais medo ainda de sua família se endividar, porque sim, isso poderia acontecer. Acontece que a cirurgia é cara pra caralho e não há cem porcento de chances de que ela vá funcionar, o que deixou todos nós meio hesitantes em relação à ela, mas depois de uma longa conversa com o médico, tia Carmen decidiu que não custaria nada arriscar, então concordei com ela.
O que nos preocupou foi como iríamos arrumar esse dinheiro, porque por mais que ela usasse todas as suas economias e eu lhe desse o dinheiro que estava guardando, isso não daria nem a metade da grana que iríamos precisar.
Foi Samantha quem teve a idéia de fazer alguns pequenos eventos para arrecadar dinheiro, e apesar de eu querer socar a cara da LaRusso, concordei e apoiei a idéia dela. Apoiei porque iríamos precisar do dinheiro e porque sei que ela está fazendo isso de coração, ela é apaixonada no Miguel, afinal de contas.
— Moon me disse que estão conseguindo bastante dinheiro. — falo para Miguel assim que desligo o celular.
— Não sei porque eles estão se esforçando tanto, — ele dá de ombros. — nem temos certeza se a cirurgia pode mesmo ajudar.
— Não seja tão pessimista, Diaz. — mostro a língua para ele. — Se não tentarmos isso nunca saberemos e eu acho que pode sim funcionar.
— Se funcionar, — ele começa. — você fica me devendo um encontro.
Prendo o lábio inferior entre os dentes para evitar sorrir.
— Um encontro de amigos? — pergunto.
— Você sabe que não quero ser só seu amigo.
— Você sabe que não vou esquecer que fui traída.
— Eu sei, — ele suspira. — por isso disse que vou reconquistar você e sua confiança. Então, um encontro?
Eu devo concordar? Quer dizer, prometi para mim mesma que iria me reerguer, mas para fazer isso eu teria que me afastar de Diaz, já que foi ele quem partiu meu coração, mas eu não consigo me afastar dele, é como se tivesse um imã me puxando em sua direção.
Quando me virei para ele para dizer que não iria rolar, me deparei com seu olhar esperançoso sobre mim e por um instante, senti meu mundo parar. Fechei os olhos e balancei a cabeça em negação, sem conseguir acreditar que eu me submeteria à isso.
— Um encontro, Diaz, nada mais.
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Soulmate • Miguel Diaz
FanfictionOnde Miguel não consegue esquecer Samantha ou Onde Megan está decidida a não se envolver com seu vizinho