Capítulo 20

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~♪Hannah ~♪

Era o dia do tributo, e eu estava com os nervos a flor da pele sabendo o que iria acontecer hoje, assim que a espectro da água surgiu.

feérica inferior abaixou o rosto delicado e de feições pontiagudas e cobriu, com os magros dedos palmados, os seios.

— Em nome dos espectros da água, eu o cumprimento, Grão-Senhor — disse a feérica, com a voz estranha, sibilante, os lábios carnudos e sensuais revelando dentes afiados e irregulares como os de um lúcio. Os ângulos agudos das feições do rosto destacavam aqueles olhos pretos como carvão.

Eu vira o tipo dela antes. No lago, logo além do limite da mansão. Havia cinco delas morando entre os juncos e as ninfeias. Eu mal conseguira ver mais que as cabeças reluzentes despontando pela superfície vítrea; jamais soubera o quanto eram assustadoras de perto. Graças ao Caldeirão que jamais nadei naquele lago.

Tinha a sensação de que a feérica me seguraria com aqueles dedos palmados, aquelas unhas pontudas se enterrariam fundo e me puxaria para baixo da superfície antes que eu conseguisse gritar.

— Bem-vinda — cumprimentou Tamlin.

Depois de cinco horas, ele parecia tão disposto quanto naquela manhã.

Imaginei que, com o retorno dos poderes, poucas coisas cansassem Tamlin agora.

O espectro da água se aproximou, o pé palmado e cheio de garras era salpicado de cinza. Lucien deu um passo casual entre nós.

Por isso ele estava posicionado do meu lado do altar.
Trinquei os dentes. Quem eles acreditavam que nos atacaria? se não estavam convencidos de que Hybern poderia organizar uma ofensiva? Até mesmo Ianthe parara com os murmúrios baixos no fundo do salão para monitorar o encontro. Desgraçada.

Aparentemente, aquela conversa não era como as demais.

— Por favor, Grão-Senhor — implorou a feérica, com uma reverência tão baixa que os cabelos pretos como nanquim roçaram o mármore. — Não há mais peixes no lago.

O rosto de Tamlin era como granito.

— Independentemente, espera-se que você pague. — A coroa sobre a cabeça de Tamlin reluziu à luz da tarde.

Feita com esmeraldas, safiras e ametista, o ouro fora moldado em uma grinalda das primeiras flores da primavera. Era uma de cinco coroas pertencentes à linhagem de Tamlin.

A feérica expôs as palmas das mãos, mas Tamlin a interrompeu.

— Não há exceções. Tem três dias para apresentar o que é devido, ou oferecer o dobro no Tributo seguinte.

Foi difícil evitar olhar com espanto para o rosto imóvel e para as palavras sem misericórdia. No fundo, Ianthe deu um aceno de confirmação para ninguém em particular.
O espectro da água não tinha nada para comer... como Tamlin podia esperar que ela desse comida a ele? Aquilo era o maior absurdo que eu já havia lido no livro..

— Por favor — sussurrou a feérica entre os dentes afiados, a pele prateada e sarapintada reluzindo quando ela começou a tremer. — Não restou nada no lago.

O rosto de Tamlin não se alterou.

— Você tem três dias...

— Mas não temos ouro!.

— Não me interrompa — disse Tamlin. Virei o rosto, incapaz de suportar aquela expressão impiedosa.

A feérica abaixou ainda mais a cabeça.

— Perdão, meu senhor.

— Tem três dias para pagar, ou traga o dobro no mês seguinte — repetiu Tamlin.
— Se falhar em fazer isso, conhece as consequências. — Tamlin gesticulou com a mão para dispensá-la.

Corte de Sonhos e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora