Capítulo 23

9.2K 663 325
                                    

~♪Hannah  ~♪

Conversei mais do que pensei com Balyo, ele me deu ótimos conselhos, e como sei que as paredes tem ouvidos, eu falei tudo em códigos com ele, e como um bom fofoqueiro, ele entendeu tudo direitinho.

Quando saí, os outros não estavam mais, apenas Rhysand.

— eles foram embora?. -arqueei uma sobrancelha.

— eles tinham assuntos a resolver. -disse Rhysand.

Ele me encarou.

— agora me diga, quem é aquela raposa? Pensei que tivesse entendido quando falei que seus amigos não poderiam saber deste lugar. -disse ele.

— Balyo é um espírito conselheiro, Rhys, eu o invoco quando não sei o que fazer, quando preciso de conselhos, quando quero uma companhia para não me afundar no poço de morte. -sussurrei.

Ele assentiu suspirando aliviado.

— podia ter me dito, assim não teria me dado, um susto quando o vi derrubar você. -ele tossiu.

Eu o encarei.

— oh, quer dizer que o grão-senhor metido e convencido se preocupa?. -falei divertida.

Seus olhos brilharam no mesmo divertimento.

—  com quem é importante para mim, sim. -ele disse.

Eu estremeci.

— queria falar com você, depois, se estiver ocupado. -sussurrei.

Ele se aproximou.

— sempre tenho tempo para você, pensei que tivesse ouvido da primeira vez. -ele pegou minha mão que estava brincando com as mechas de meu cabelo.

E ele beijou as costas de minha mão.

E eu havia dormido o tempo inteiro e só acordei no dia seguinte.

Rhys esperava à porta da frente, a qual estava aberta para a pequena antecâmara de madeira e mármore, que, por sua vez, dava para a rua além dela. Rhys me observou, desde os sapatos azul-marinho de camurça, práticos e confortáveis, até o sobretudo azul-celeste na altura dos joelhos e a trança que começava de um lado de minha cabeça e dava a volta por trás dela. Sob o casaco, a roupa fina habitual tinha sido substituída por calça marrom mais espessa e mais quente e um suéter creme bonitinho, que era tão macio que eu podia ter dormido nele. Luvas de tricô que combinavam com os sapatos já estavam enfiadas nos bolsos fundos do casaco.

— Aquelas duas gostam mesmo de chamar atenção — observou Rhysand, embora algo parecesse tenso conforme seguimos para a porta.

Cada passo na direção daquele batente iluminado era tanto uma eternidade quanto um convite.
Por um momento, o peso dentro de mim sumiu quando absorvi os detalhes da cidade que emergia:
Luz do sol amanteigada, que suavizava o dia de inverno já ameno, um pequeno e bem-cuidado jardim na frente, a grama seca quase branca, envolto por uma cerca de ferro retorcido na altura da cintura, e canteiros de flores vazios, tudo isso seguindo até uma rua limpa de paralelepípedos pálidos.

Grão-Feéricos em diversos tipos de vestimenta perambulavam: alguns com casacos como o meu para se proteger do ar gelado, alguns usando moda mortal, com camadas e saias bufantes e renda, outros com couro para cavalgar; todos sem pressa conforme inspiravam a brisa de sal, limão e verbena que nem mesmo o inverno conseguia afugentar. Nenhum deles olhou na direção da casa. Como se não soubessem ou não se preocupassem que o próprio Grão-Senhor morava em uma das muitas casas de mármore que ladeavam a rua, cada uma encimada por telhados de cobre verde e chaminés pálidas que sopravam espirais de fumaça no céu frio.

Corte de Sonhos e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora