Capítulo 15

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~♪Hannah  ~♪

Acho que afundei tanto dentro de mim mesma que foi preciso algo extraordinário para me trazer de volta. Eu estava observando a luz dançar pela rocha úmida do teto da cela, como luar sobre água, quando um barulho viajou até mim, pelas pedras, irradiando pelo chão.

Estava tão acostumada com os estranhos violinos e tambores dos feéricos que, quando ouvi a melodia alegre, achei que fosse outra alucinação. Às vezes, se encarasse o teto por muito tempo, ele se tornava a ampla extensão do céu estrelado, e eu me tornava algo pequeno e pouco importante, soprado pelo vento.

Olhei para o pequeno buraco de ventilação em um canto do teto, pelo qual a música entrou em minha cela. A origem da música devia estar muito longe, pois era apenas um leve agitar de notas, mas, quando fechei os olhos, consegui ouvir mais claramente. Consegui... ver. Como se fosse uma grande pintura, um mural vivo.

Havia beleza naquela música... beleza e bondade. A música se dobrava sobre si mesma, como massa de bolo sendo despejada de uma tigela, uma nota sobre a outra, derretendo-se e mesclando-se para formar um todo, se elevando, me preenchendo. Não era música selvagem, mas continha uma violência de paixão, um tipo de alegria e tristeza ardentes, crescentes. Levei os joelhos até a altura do peito, precisando sentir a firmeza da pele, mesmo escorregadia pela tinta oleosa sobre ela.

A música formava uma trilha, uma subida sustentada por arcos de cores. Eu segui, saindo daquela cela, por camadas de terra, para cima, para cima... até campos de cardos azuis, além da folhagem das árvores, para a imensidão aberta do céu. O ritmo da música era como mãos me empurrando carinhosamente para a frente, me puxando mais para o alto, me guiando pelas nuvens. Jamais vira nuvens como aquelas; e em seus cantos fofos, eu conseguia discernir rostos bonitos e tristes. Eles sumiram antes que eu conseguisse enxergar com clareza, e olhei para longe, para onde a música me chamava.
Era um pôr do sol ou uma alvorada. O sol enchia as nuvens de magenta e roxo, e os raios laranja e dourados se misturavam ao meu caminho, formando uma faixa de metal reluzente.
Eu queria me dissolver ali, queria que a luz daquele sol me queimasse para longe, me enchesse de tanta alegria que eu me tornaria um raio de sol também.

Aquilo não era música feita para dançar, era música para adorar, música para preencher o vazio em minha alma, para me levar a um lugar onde não havia dor.
Não percebi que estava chorando até que o calor úmido de uma lágrima caiu em meu braço. Mas, ainda assim, me agarrei à música, segurando-a como um beiral que me impedia de cair. Não tinha percebido o quanto eu não queria mergulhar naquela escuridão profunda, o quanto queria ficar ali, entre nuvens e cor e luz.

Deixei que os sons me invadissem, deixei que me deitassem e atropelassem meu corpo com os tambores. Para cima e para cima, se elevando até um palácio no céu, um corredor de alabastro e opala, onde tudo o que era lindo e gentil e fantástico morava em paz. Chorei... chorei por estar tão perto daquele palácio, chorei devido à necessidade de estar ali. Tudo o que eu queria estava ali; aquele que eu amava estava ali...

Rhysand, cada nota era como seu toque em meu corpo todas as noites que eu o acompanhava.

A música aumentou , mais alta, mais grandiosa, mais rápida, de onde quer que fosse tocada , em uma onda que atingiu seu ápice, destruindo a tristeza de minha cela. Um soluço e um estremecimento saíram de mim quando o som se dissipou em silêncio. Fiquei sentada ali, tremendo e chorando, ferida e exposta, desnudada pela música e pelas cores que restavam em minha mente.

Quando as lágrimas pararam, a música ainda ecoava em cada fôlego meu , deitei na cama de feno, ouvindo minha respiração.
A música entremeou minhas lembranças, unindo-as, transformando-as em uma colcha de retalhos que me envolveu, que aqueceu meus ossos. Olhei para o olho no centro de minha palma, mas ele apenas encarou de volta, sem se mover.

Corte de Sonhos e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora