Capítulo 50

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~♪Hannah ~♪

O solstício de Verão era exatamente como me lembrava: bandeiras, fitas e guirlandas de flores por todos os lados. Tonéis de cerveja e vinho eram arrastados até os pés das colinas que rodeavam a propriedade.
Grão-Feéricos e Feéricos inferiores se aglomerando de igual maneira para a celebração.
Mas o que não existia no ano passado era Ianthe.

A celebração seria um sacrilégio se não agradecêssemos antes.
Então estávamos todos de pé duas horas antes do amanhecer, com a visão turva e ninguém pronto o bastante pra tolerar suas cerimônias enquanto o sol se dirigia para o horizonte no dia mais longo do ano.

Me perguntava se Tarquin tinha que lidar com cerimônias tão chatas quanto essa em seu palácio brilhante no mar. Me perguntava se tais cerimônias aconteceriam em Adriata hoje, com o GrãoSenhor da Corte Estival, que estivera tão perto de ser um amigo.

Até onde eu sabia, apesar dos rumores dos servos, Tarquin nunca disse nenhuma palavra da visita que Rhys, Amren e eu fizemos para Tamlin. O que o senhor do verão pensava das minhas atuais circunstâncias? Não duvidava que Tarquin já tinha ouvido falar. E eu rezei pra que ele ficasse fora disso tudo enquanto eu não terminasse o trabalho que ainda tinha para fazer aqui.

Alis conseguiu para mim uma capa luxuosa de veludo branco para a cavalgada pelas colinas, e Tamlin me pusera numa égua pálida como a lua que tinha flores selvagens por toda sua crina. Se eu quisesse pintar uma imagem de pureza seria aquela daquela manhã, meu cabelo trançado, no topo da cabeça, coroados com uma coroa de flores de espinheiro.

Coloquei um pouco de blush em meus lábios e bochechas, um toque suave de cor, como as primeiras pinceladas da primavera numa paisagem de inverno.

Nossa procissão chegara à colina, uma multidão de centenas já nos aguardando, com todos os olhos voltados para mim. Mas mantive meu olhar para frente, para onde Ianthe se postava frente à um altar de pedra rústica repleto de flores, frutas e dos primeiros grãos do verão. O capuz de seu robe azul pálido estava finalmente abaixado, a tiara de prata agora descansava no topo de sua cabeça dourada.

Sorri para ela, minha égua parando obedientemente no arco norte do semi círculo que o povo havia feito ao redor do altar de Ianthe, nos limites da colina, e me perguntei se ela conseguia ver o lobo sorrindo por baixo da minha roupa.

Eu iria roubar o momento dessa pirua hoje.

Tamlin me ajudou a descer do cavalo, a luz cinza do céu logo antes do amanhecer brilhando com os fios dourados de sua jaqueta. Me forcei a olhar em seus olhos quando ele me colocou na grama, consciente dos olhares de todos os outros sobre nós. As lembranças brilharam em seu olhar, do jeito que seus olhos fixaram em meus lábios.
Fazia um ano que ele tinha me beijado nesse mesmo dia. Fazia um ano que tinha dançado entre essas mesmas pessoas, sem preocupações além das de ir para quem eu amava de verdade ou manter minha atuação impecável até o cair da madrugada.

Dei-lhe um pequeno e tímido sorriso enquanto aceitava o braço que ele me estendia.
Juntos nós cruzamos a grama até o altar de Ianthe, com os príncipes de Hybern, Jurian e Lucien logo atrás.

Também me perguntava se Tamlin se lembrava daquele dia há tantos meses atrás, quando eu usara um vestido branco diferente e onde tinha havido também flores espalhadas. Quando meu parceiro havia me resgatado, quando eu havia desistido de prosseguir com o casamento que eu nunca nem em sonho ou macumba quis.
E Rhys...
Rhys teria deixado eu me casar com ele, acreditando que eu era feliz, acreditando em minha atuação, querendo que eu fosse feliz, mesmo que isso acabasse por mata-lo. Mas, no momento em que eu dissera não...
Ele me salvara. Me ajudara a me salvar.

Corte de Sonhos e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora