Capítulo 21

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~♪Hannah  ~♪

Naquela noite, Rhysand deixou uma pilha de livros a minha porta com um bilhete.
Tenho assuntos para tratar em outro lugar. "A casa é sua. Mande chamar se precisar de mim.
Dias se passaram; e eu não precisei.

Rhys voltou no fim da semana. Tomei o hábito de ficar em uma das pequenas salas que davam para as montanhas, e li um livro inteiro na poltrona de estofado macio, Mas aquilo preenchera meu tempo, me dera a companhia silenciosa e constante daqueles personagens, os quais não existiam e jamais existiram, mas, de alguma forma, me faziam sentir menos...
sozinha.

A mulher que empunhara uma lança de osso contra Amarantha... Eu não sabia mais onde ela estava. Talvez tivesse sumido naquele dia em que seu pescoço se partiu e a imortalidade feérica tomou conta de suas veias.

Eu estava terminando um capítulo especialmente bom, o antepenúltimo do quinto livro que eu lera, e um vespertino raio de sol amanteigado aquecia meu rosto quando Rhysand passou por duas das grandes poltronas com dois pratos de comida nas mãos e os apoiou na mesa baixa diante de mim.

— Como parece determinada a um estilo de vida sedentário — disse ele — pensei que poderia me adiantar e lhe trazer comida.

Meu estômago já se revirava de fome, e apoiei o livro no colo.

— Obrigada.

Uma risada curta.

— Obrigada? Nada de “Grão-Senhor e criada”? Ou: “Não importa o que queira, pode enfiar na bunda, Rhysand”? — Ele emitiu um estalo com a língua. — Que decepcionante.

Apoiei o livro e estendi a mão para o prato. Rhysand podia se ouvir falar o dia inteiro se quisesse, mas eu queria comer. Agora.

Meus dedos tinham quase tocado a borda do prato quando ele simplesmente o deslizou para longe.

Estendi o braço de novo. Mais uma vez, uma espiral do poder de Rhysand puxou o prato mais para trás.

— Diga o que posso fazer — falou Rhys. — Diga o que posso fazer para ajudá-la.

Rhys manteve o prato além do alcance. Ele falou de novo, e, como se as palavras que saíram afrouxassem o controle dele sobre o poder, garras de fumaça se espiralaram sobre os dedos de Rhysand e enormes asas de sombras se espraiaram de suas costas.

— Meses e meses, e você ainda é um fantasma. Ninguém por lá pergunta que diabo está acontecendo? Seu Grão-Senhor simplesmente não se importa?.

Não, não se importa, e eu não quero nada vindo de Tamlin, nada.

— Me deixe ajudá-la — falou Rhysand. — Passamos por coisas demais Sob a Montanha.

Encolhi o corpo.

— Ela vence — sussurrou Rhys. — Aquela cadela vence se você permitir se desfazer.

Imaginei se ele estava se dizendo isso havia meses, me perguntei se Rhysand também tinha momentos quando as próprias memórias às vezes o sufocavam profundamente à noite.
Mas ergui o livro, disparando três palavras pela ligação entre nós antes de erguer os escudos de novo.

"Fim da conversa".

— Ao inferno que acabou — grunhiu Rhysand. Um estrondo de poder acariciou meus dedos, e, então, o livro se fechou em minhas mãos. Minhas unhas se enterraram no couro e no papel, inutilmente.

Desgraçado. Desgraçado arrogante e convencido.
Devagar, ergui o olhar para Rhys. E senti... não um temperamento colérico, mas ódio frio e reluzente.
Quase conseguia sentir aquele gelo nas pontas dos dedos, beijando as palmas das mãos. E jurei que gelo cobriu o livro antes que eu o atirasse contra a cabeça de Rhysand.
Ele se protegeu tão rápido que o livro quicou para longe e deslizou pelo piso de mármore atrás de nós.

Corte de Sonhos e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora