O cordeiro ataca

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Tudo está perfeito, foi o que pensei.

Minha casinha era pequena, certamente não servia para comportar uma festa de sete pessoas. A fumaça pesada dos incensos preenchia cada centímetro do ar. Luas e estrelas de papel se penduravam no teto como decoração e a gente batia a testa nelas às vezes. Apenas uma pessoa, por vez, podia andar pelo corredor de quartos.

Não havia adultos em casa. Pedi que meus pais dessem privacidade para a nossa festa de comemoração pelo fim do ano letivo, e eles tinham ido para o vilarejo por um tempo. O clima era de leveza purinha. Estávamos desfrutando da quentura do mês de julho, recusando qualquer preocupação. Nem mesmo os boatos, de que "Você Sabe Quem" havia retornado há alguns dias, tinham peso em nossas mentes. Era um problema feito de ar, como as conversas de adultos eram para os adolescentes.

Minha melhor amiga estava finalmente conversando com sua paixonite, um dos amigos de meu irmão. Ela estava corada e a bebida em sua mão tinha sido esquecida ao longo da conversa. Vê-la pela primeira vez, tão contente ao lado de alguém, deixava meu coração quentinho.

O sorriso no meu rosto se tornou uma cara feia, quando meu irmão mais velho trocou de música, pela milésima vez, no seu rádio trouxa antes que a anterior terminasse. Ele me deu um sorrisinho cínico ao ter certeza de que tinha me irritado. Estava prestes a brigar com ele, quando recebi um abraço caloroso pela cintura e meus braços se arrepiaram de um jeito gostoso.

Lander me puxou para nos largarmos no sofá. Meu coração bateu mais alto, maravilhado com o brilho dos olhinhos verdes dele. Suas bochechas ficaram vermelhas, como as cerejas mais perfeitas que o mundo tinha a oferecer. Levei um de seus cachos para trás de sua orelha e ele sorriu, tímido. Eu podia contar cada sarda que pintava a obra de arte que era seu rosto.

Nosso intercâmbio de poções para o Egito estava marcado para dali poucos dias. Vão ser dias mágicos, pensei. Nunca teria conquistado aquele intercâmbio sem a ajuda dele em Herbologia. Lander era a parte mais deslumbrante da minha vida, e eu não sabia o que faria sem ele.

Ele tomou fôlego para dizer alguma coisa, e foi quando a porta de entrada se escancarou e vultos mascarados se espremeram para dentro da minha casinha, com as varinhas em punho.

Todos paralisaram enquanto a figura pálida, envolvida em mantos pretos, entrava e inspecionava a sala com os olhos ofídicos. Aquelas duas fendas malignas, que eram suas pupilas, fincaram-se em mim por uma longuíssima eternidade.

— Você é exatamente como sua mãe — disse Voldemort numa voz fria e refinada de certeza.

Então, ele ergueu sua varinha direto para o meu peito.

Os amigos de meu irmão berraram feitiços imediatamente em resposta.

Borrões verdes, vermelhos, roxos, laranjas me cegaram de todos os lados. Vozes arranhadas e agudas batalhavam, enquanto Lander me guiava para o corredor dos quartos e dizia para me esconder. Ele partiu para ajudar os outros.

Renie quase me derrubou ao sair de seu quarto com a varinha em punho.

— Somos menores de idade! — eu disse.

— Pega sua varinha! — Renie disse.

— O que vai fazer?!

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