Docemente se cria gaiola

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Renie e eu passamos o dia ouvindo os sinos das aulas tocarem sem sair da sala. Eu o aconselhei a ir para a aula, mas ele não deu a mínima. O tempo estava passando rápido, mesmo que não estivéssemos fazendo nada além de conversar sobre Durmstrang, sobre Hogwarts e sobre um monte de coisas que só nós dois entendíamos.

Com toda a atenção e compreensão que ele procurava me dar, esforçando-se para não dizer "eu te avisei", fui me sentindo cada vez pior por não ter dado ouvidos a ele antes.

— Você não acha que devia mudar de dormitório?

— Ah, que exagero, Renie... — eu disse e funguei. — Não quero me sentir mais sozinha do que já me sinto.

Ele se ajeitou na cadeira e remexeu no próprio cabelo.

— Você tá convivendo com filhos de Comensais, Mendel. Não quero mais brigar por causa disso; pode fazer o que quiser e vou ficar do seu lado. Mas toma cuidado. Elas provaram que vocês não são muito íntimas.

Eu assenti a contragosto, abraçando-me.

— E como foi a sua aula de Oclumência? — eu disse.

— Ah, Snape é um seboso infeliz! — Ele emburrou a cara. — Me tratou como se eu tivesse feito o xampu dele sumir!

Ele estava com os ombros aprumados de indignação e eu dei risada.

— É sério! — ele disse. — Se eu tivesse me saído mal naquele negócio ele ia me envenenar!

— Então você foi bem?

— Digamos que consegui surpreender a ele e a mim. Não foi muito difícil, eu só parei de me importar com tudo, inclusive a aula; não é uma coisa que me interesse muito aprender.

— Você não vai fechar a sua mente, né?

— O Sr. Weasley não teria sido salvo se a gente fechasse. Diga o que quiser, vou aprender essa coisa e continuar sabendo o que Voldemort faz.

Eu assenti, por mais que eu tivesse um grande interesse pessoal em controlar por completo a minha mente.

O sino para a próxima aula tocou e eu me afundei mais na cadeira com o peso do desânimo.

— Agora é Estudo dos Trouxas — ele disse, olhando tentadoramente para a porta.

— É a única matéria que você nunca faltou, né?

— É.

— Vai lá. — Eu fiz um aceno para a saída. — Não vou ser a pessoa a destruir sua melhor nota.

— Você vai ficar ok? — Eu assenti e ele me deu tapinhas no ombro. — Então até depois.

Fiz o Feitiço Desilusório e fui para a cozinha comer alguma coisa, pois já sentia minha barriga roncar. Com pressa para que os elfos não vissem comida voando por ali, peguei apenas um prato com peixe defumado e um copo de suco de abóbora, e comecei a subir as escadas enquanto os quadros gritavam alertas sobre um "invasor invisível". Antes que algum professor aparecesse, subi para a Torre de Astronomia e sumi das vistas deles.

Passei o fim da tarde ali, decidida a não ir jantar no Salão Principal e a só voltar à sala comunal tarde o suficiente para que nem Sheri nem Evelyn estivessem acordadas.

Sentada na escada da Torre e atenta aos sons e às sombras que passavam pelo corredor ali perto, não fui rápida o suficiente para me esconder quando uma delas parou perto da porta e decidiu entrar.

— Acho que você perdeu algumas aulas — Malfoy disse ao pé da escada, as mãos enfiadas nos bolsos.

Eu soltei o ar de alívio e relaxei no degrau.

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