O cordeiro os separou

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Eu não tinha conseguido dormir nadinha naquela noite. Por volta das vinte horas, quando meu coração entrou em desespero e em agonia forte contra o meu peito, recusando-se a ficar lá dentro, eu tive certeza de que ia morrer. Quando dei por mim, já estava correndo, sem saber para onde, até que o ar frio e a luz da lua me encontraram no meio do caminho e, após infinitos minutos de tormento, minha respiração se regularizou e eu pude cair no choro para limpar a alma daqueles sentimentos horríveis.

O castelo já tinha se fechado àquela hora. Firenze, um centauro de tronco baio e olhos cor de mirtilos, encontrou-me na orla da Floresta e teve a bondade de não me entregar para nenhum professor. Nós dois passamos a noite trocando as experiências que tivemos com Harry, Rony e Hermione; eu, no largo Grimmauld e ele, nos anos de aventuras dentro da escola. Levei um susto quando percebi o quanto as histórias que Firenze contava eram parecidas com os sonhos que eu tinha de Harry ultimamente. No entanto, naquele momento, achei que isso fosse apenas coincidência ou então uma impressão falsa.

O primeiro raio de sol do dia infiltrou-se entre as folhas das árvores à beira da Floresta Proibida. Firenze já tinha me avisado para não sair de perto da casa de Hagrid e, por mais que eu estivesse curiosa para saber o que morava na mata, eu obedeci.

A luz dourada recaiu sobre as minhas unhas pintadas de verde escarlate. Firenze disse que a cor ficava "interessante", o mesmo que havia dito sobre o roxo e o vermelho. Ele não estava me ajudando muito a decidir qual seria uma cor elegante e, a muito custo e insistência, consegui arrancar-lhe o acréscimo de que o verde combinava com meu uniforme. Era importante que cada mínimo detalhe meu favorecesse para uma boa impressão, especialmente após saber que Pansy e Daphne já não gostavam de mim em tão pouco tempo.

As enormes portas do castelo fizeram um rangido barulhento quando começaram a se abrir e eu soltei um lamento. Firenze estava me contando por que os centauros acreditavam tanto que os planetas influenciavam a vida dos humanos. Segundo ele, era assim que profecias eram criadas. Alguns meses do ano eram marcados pela criação de dezenas de profecias de uma vez só, no mesmo momento do nascimento de seus donos, devido a órbitas e posições planetárias específicas.

— E quais são os meses que mais geram profecias mesmo? — eu disse.

— Julho, Agosto e Novembro. — Firenze disse.

— Ei! Eu faço aniversário em Agosto! Será que eu tenho uma?

— Isso é improvável. O ano de seu nascimento é desfavorável para profecias.

— Hum... Mas e s-

Eu tive que parar de falar quando a Prof.ª Grubbly-Plank veio descendo o gramado para a orla da Floresta. Joguei-me atrás de um arbusto e Firenze se colocou na minha frente para ajudar a me esconder. Ele me aconselhou a subir para o castelo antes que eu perdesse o café da manhã e, intimidada pela maquiagem sombria da professora e o quão próxima ela estava de me flagrar, esqueci sobre profecias e segui seu conselho.

No Salão Principal, Sheridan e Evelyn já estavam sentadas à mesa quando me aproximei.

— Merlin! — Sheridan disse.

— Onde você tava?! — Evelyn disse.

Eu me sentei e me inclinei para falar baixinho.

— Fiquei presa do lado de fora. Foi legal, até. Ouvi mil e uma histórias dos centauros e as estrelas.

— Me leve pra "ficar presa" do lado de fora também — Evelyn disse. — Bem melhor do que ouvir a voz da Pansy a noite inteira.

— Bom dia — Theodore disse rapidamente, passando por trás de mim e me dando um aperto carinhoso no braço.

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