Inércia, amiga e herói

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— Ela sobreviveu! — Fred e Jorge cantarolaram enquanto eu empurrava meu malão para dentro da casa de Sirius na noite de vinte e nove de dezembro.

Eu podia acrescentar que tinha sobrevivido com maestria.

Era verdade que Malfoy continuava sendo o arrogante, metido, dono das tiradas maldosas e o olhar gelado de impaciência.

Mas nos últimos três dias conseguimos conviver sem nenhuma nova discussão (o que era um recorde, considerando que tínhamos apenas a companhia um do outro e, bem, dormíamos a um corredor de distância), usando do sarcasmo quando necessário para lembrar que, no fim das contas, não era uma situação confortável para nenhuma das partes.

E tinha se tornado hábito inserir a ironia automática para dizer o que precisava ser dito, porque naqueles momentos em que nós nos tocávamos sem querer e meu corpo se arrepiava ou meu coração errava uma batida, pensar em algo coerente era uma tarefa abissalmente trabalhosa.

Malfoy parecia ter muito mais prática em retomar a conversa ou o que quer que estivéssemos fazendo juntos como se aquele nervosismo forte entre nós não existisse, mas ele estava enganando a si mesmo se achava que não era notável que suas pupilas ficavam largas de ansiedade quando me olhava.

Toda conversa com ele era como o preparo de uma poção diferente. Ele me desafiava e eu me divertia imensamente tentando vencer cada obstáculo. Era viciante ouvi-lo falar orgulhosamente do que conhecia. Era fascinante poder contar a ele o que ele queria saber e ver seus olhos tão claros se arregalarem de admiração. Uma vez que a nuvem de inimizade era deixada de lado, descobri que tínhamos muito mais em comum do que eu imaginara e isso foi assustador. Malfoy me deixava confortável sobre as partes de mim que muitas pessoas abominavam, e eu ainda não sabia se gostava disso ou não.

Descobri no dia a dia que, surpreendentemente, ele não tinha puxado de nenhum dos pais aquela arrogância sem fim. Lúcio tinha muita prática com o sorriso simpático para conquistar as pessoas e sabia ser mais discreto sobre a sua fortuna quando lhe convinha. Narcisa era tão discreta que seus modos exalavam nobreza. Malfoy não tinha a menor paciência para ser gracioso ao exibir sua "superioridade" sobre o resto do mundo.

Foi só quando cheguei à casa de Sirius que me lembrei de Voldemort e da chance de conseguir alguma informação dentro da mansão; Harry e Renie estavam logo ao lado dos Weasley para me receber, ambos me olhando ansiosos.

— Mendel! — disse uma voz feminina que eu não ouvia há bastante tempo.

— Astlyn! — eu disse e atirei meus braços ao redor dela. — Merlin, é tão bom te ver!

— Tenho tanto parra contar! — ela disse com seu sotaque e foi me puxando escada acima.

— Calma, meu malão...

— Ah, Renie vai fazer o favor de pegar parra você. Cerrto?

Astlyn sorriu para ele por cima do ombro e aquele sorriso bobo de fragilidade que só ela era capaz de causar nele retornou.

Ela estava exatamente como a tínhamos deixado em Durmstrang: o cabelo azul turquesa cheio — fruto de ter tomado a poção errada ao tentar alisá-lo —, os traços delicados do rosto, o vestido rodado e um bracelete de escama de um dragão Verde–Galês.

— E você quase não tem sotaque nenhum! — eu disse.

— Eu não querria vir falando búlgarro com as pessoas, é bom ser entendida. Então estudei um pouquinho na casa dos meus pais.

— Sem contar as aulas particulares do Renie, hum? Me conta, como estão as coisas entre vocês?!

— Sinceramente, eu não achei que mencionar Durmstrang vosse deixar ele tão chateado e eu queria conversar sobre como ele agiu, ignorando Boor, eu e a mãe do Vernan. Ele tentou puxar brriga comigo com cada bobagem...

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