Há sangue na água

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A sala de estar dos Selwyn, por si, era do tamanho da minha casa. Havia três sofás, nos quais sentamos para esperar Theo trazer chá. A lareira de mármore claro tornava o ar aconchegante e arrepiava meus braços com quentura.

Eu era incapaz de desviar o olhar da grande pintura a óleo acima da porta dupla que levava à cozinha. Era de um homem e uma mulher lado a lado, com as mãos sobre os ombros de um menino gordo, Otto; e uma menina de cabelos pretos e compridos. As madeixas dela pareciam anéis, como as minhas.

Theo entrou com uma bandeja de prata e nos serviu a bebida que fumegava e apaziguava meus sentidos docemente. Ele vestia uma camisa de manga longa justa em seus braços magros e seu cabelo preto estava brilhando. Bonito, como sempre.

Eu me amaldiçoei por esse pensamento logo depois de tê-lo, afinal, as coisas tinham mudado...

Quando ele me estendeu a bandeja para eu pegar uma xícara, notei que em seu dedo anelar estava o grande anel de esmeralda de Daphne.

— Ficamos sabendo que você estava com ela — eu disse, apontando para o objeto com um sorriso. — Não achamos que íamos te encontrar aqui.

— Cheguei há algumas horas. Vim pegar algumas coisas minhas, sabe, estou fazendo as malas — ele disse.

— Por isso você não voltou pra Hogwarts esse ano? — perguntei.

Ele suspirou e se sentou ao meu lado, levando pacientemente a xícara aos lábios.

— Não quero terminar meus estudos daquela maneira, sabe. Espero que tudo isso passe logo — ele disse e fez um gesto amplo para a sala. — Essa é a casa da minha mãe. Vocês já conheciam, certo? — perguntou às meninas.

— Passei aqui com meus pais uma vez — Sheri disse.

— O que estão tramando? — Theo indagou. — Seja o que for, eu gostaria de ajudar de alguma maneira. Sinto que vou sufocar com os absurdos que tenho ouvido, sabe. É tudo muito... estapafúrdio.

Ele abriu um sorriso astuto para mim e minhas bochechas esquentaram. Àquela altura, depois de todo o apoio que Theo me dera e o quão bom fora comigo, eu confiaria minha vida a ele.

— Estamos procurando... — comecei dizendo, mas Evelyn me interrompeu com um acesso de tosse dramático e os olhos arregalados para mim, como eu fizera antes para impedi-la de dar informações cruciais para Blásio. Quando ela parou, um silêncio longo se espreguiçou de modo desconfortável entre nós. — Theo é confiável — afirmei.

— Tudo bem, não precisam entrar em detalhes comigo se não quiserem — Theo disse. — Eu entendo. Eu não confiaria na minha própria sombra ultimamente, sabe. Mas quero fazer alguma coisa para ajudar o lado certo.

— Eu sei disso — respondi. — Estamos procurando Otto, seu tio. Ouvimos dizer que ele tem um Vira-Tempo. E... isso ia ser de uma ajuda enorme pra Sheri agora.

— Uau! Você quer dizer então... Estão pensando em mandá-la... Uau! É uma ideia bem ousada... e genial.

— Obrigada — Evelyn disse com o queixo erguido em orgulho.

— Meu plano é melhor — Blásio interveio. — O governo não precisaria gastar recursos procurando ela para sempre.

— Pro inferno com o governo — Evelyn replicou.

— Eu agradeço seu esforço, Blásio, de verdade — Sheri disse, inclinada na direção dele. — Mas... eu prefiro usar o Vira-Tempo, se minha opinião vale de algo agora...

— Estou fazendo isso unicamente por você, Sheridan! — Blásio disse.

— Sim, e eu disse que sou grata, mas...

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