Sob sorte o tempo e a morte

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Malfoy e eu decidimos que nossas aulas na sala do sexto andar ficariam marcadas para poucas vezes na semana, mas sempre de noite e no mesmo horário, para que tivéssemos tempo de revisar as outras matérias mais tarde. Já fazia alguns dias que nos encontrávamos, quando ele resmungou, pela milésima vez:

— Os restos mortais dos meus antepassados iam explodir no mausoléu da minha família se soubessem disso. Treinando feitiços com a mestiça...

Ele apontava a varinha para a cadeira, falhando na execução do feitiço. Eu soltei um suspiro fraquinho.

— Você não tá se concentrando. Quer que eu repita o floreio? — eu disse.

— Você sabe q-

— Que se eu contar a alguém sobre o que estamos fazendo, eu vou prestar os NOMs na enfermaria. Eu sei, você já disse. Acredite, não tenho a menor intenção de deixar alguém saber.

Ele fez um aceno de aprovação com a cabeça e voltou ao feitiço, e precisei morder os lábios para conter um sorriso.

Evelyn e Sheridan já sabiam, na verdade.

Ao contrário do que pensava Malfoy, nós dois jamais conseguiríamos despistar a atenção de sumirmos ao mesmo tempo se não houvesse alguém para nos cobrir. E nós concordávamos que estava fora de questão deixar Pansy saber disso.

Não era tão difícil conversar com ele longe dos outros quanto eu tinha esperado. Contudo, havia um assunto que era tabu. Malfoy evitava terminantemente comentar o fato de que estava agindo contra o que pensava seu pai.

Era muito divertido vê-lo tentar se esquivar do assunto como se fosse o bote de uma serpente, enquanto eu tentava cinicamente fazê-lo admitir o delito que cometia.

Determinada em apresentar a ele o meu melhor desempenho nos feitiços, comecei a me esforçar ainda mais nas reuniões da AD. A cada minuto que desfrutava lá dentro, eu pensava no quanto estaria preparada para ensiná-lo.

Os membros da Armada que ficavam sem dupla sempre conseguiam alguma desculpa para não treinarem comigo e acabei descobrindo que era pelo medo de eu fazer com eles o que fiz a Malfoy quando duelamos perto da estátua de trasgo.

Por isso, era Harry quem me auxiliava na execução dos feitiços que ensinava.

— Nem consigo acreditar que ainda não aprendi isso — reclamei, enquanto ele posicionava o boneco de treino a alguns metros na minha frente.

— Tenha paciência e acredite em si mesma — ele disse e se colocou ao meu lado. — Bom, ele vai vir na sua direção, aí você lança o feitiço.

Harry era adoravelmente cuidadoso. Ele sorriu para me incentivar e meu rosto ferveu tão forte em resposta que não consegui retribuir. Ele estava tão perto, minha concentração ficava inebriada...

Impedimenta! Ah... Foi quase...

— Continue tentando... — ele resmungou baixinho, olhando para o outro lado da sala.

Harry observava com muito interesse as tentativas de Dino com o feitiço. Ele se afastou de mim para ir ajudá-lo, sem acrescentar mais nada. Um frio estranho congelou meu estômago.

Naquela noite, quando cheguei à sala comunal, fui arrancada dos meus devaneios pela música que disparava animada do piano meio escondido num canto. Sheridan estava sentada no banco com um sorriso bobo e imenso, cantando uma música a plenos pulmões.

Blásio estava de braços cruzados e de pé, assistindo-a com um brilho de interesse nos olhos.

Ele era um dos poucos que prestavam atenção.

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