Inocentes filho e filha

97 12 70
                                    

Renie e eu cruzamos um com o outro nos corredores várias vezes durante os dias que se passaram, mas fingimos não perceber. Geralmente, depois das nossas brigas, ele era o primeiro a dar o braço a torcer e voltar a me encher o saco. Ele levava pouquíssimas coisas a sério. Eu, por outro lado, queria que ele entendesse no que estava errado, especialmente sobre um assunto tão grave quanto manter suas doses de poção em dia.

Evelyn e Sheri não faziam questão de ficar perto dos grifinórios, então, frequentemente eu me via acompanhando-as quando iam ouvir alguma fofoca nova ou assistir à continuação de um problema rotineiro, como o drama acerca de Malfoy e Pansy, por exemplo.

Estávamos no intervalo depois da aula de Feitiços quando vimos Daphne discutindo com Malfoy numa parte mais afastada da multidão de alunos.

— Você não pode fazer isso com ela, Malfoy! Ela não é um brinquedo!

— Você não sabe do que tá falando — ele disse, esquivando os olhos medrosos para a varinha dela pousada junto ao corpo.

— Eu sei, sim. E não vou deixar... Vocês perderam alguma coisa aqui?

Ela olhou feio para nós, que viramos o rosto e nos afastamos.

Theo surgiu caminhando ao nosso lado, lançando a Daphne um olhar penalizado.

— Sempre achei que ela dedica mais atenção a isso do que Pansy merece, sabe — ele disse.

— Elas são amigas, ela se importa — eu disse.

— Pansy vive reclamando que Daphne está tentando impedir ela de ser feliz.

— E você não é o conselheiro particular do Malfoy ou sei lá o quê? — Evelyn disse.

— Alertei Malfoy sobre as atitudes dele uma vez e só faltou ele me mandar para a ala hospitalar. Não vou me envolver, sou mais esperto que isso. Até depois, gente.

Dizendo isso, ele virou num corredor para o que supus ser sua aula de Runas Antigas. Subitamente, Sheridan e Evelyn também se despediram e eu só entendi quando Fred e Jorge vieram até mim para me cumprimentar. Renie estava ao lado deles, olhando para o teto.

— Que bom ver que você já tá se enturmando! — Fred disse. — Eu me pergunto se os meros alunos da Grifinória bonitões e muito espertos que você conheceu no verão ainda possuem espaço no seu coração.

— Essa rima foi de propósito? — eu perguntei.

— Claro, sou um romântico nato! — Ele estufou o peito e, desnecessariamente, dobrou os pés para ficar mais alto.

— Indo direto ao ponto — Jorge disse, cutucando seu gêmeo com uma careta séria. —, precisamos de uma ajuda sua.

— Você sabe que estamos trabalhando nos Nugá Sangra-Nariz, certo? — Fred disse.

— Claro, comi um acidentalmente na casa do Sirius e quase fui pro St. Mungus — eu disse, dando risada. — Já conseguiram um antídoto?

— Acontece que sabemos quais são os ingredientes...

—... e temos livros que explicam como preparar...

—... mas tentamos várias vezes e só o que conseguimos foi inchar a língua com bolinhas brancas.

— Merlin! — eu disse.

— Pois é, um problemão. Aí, seu irmão aqui disse que você nunca erra uma poção.

— Ele disse, é?

Quando o encarei, Renie enfiou as (duas) mãos nos bolsos e me olhou de um jeito paciente. Ele não estava chateado comigo por eu ter me defendido como me defendi dele na outra noite. Se eu bem o conhecia, estava até orgulhoso. Eu imaginava como tinha sido fácil para ele, usar os feitiços de cura nos quais era tão bom, para remendar sua mão decepada. Renie estava paciente nesse momento e tinha me elogiado para os gêmeos, porque sabia que eu não ia gostar do que os dois iam me pedir.

Perversa Magia ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora