Aquele que permite você cative

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Eu fui vítima, de novo, daquela vontade de escrever uma longa carta para desabafar. Mas para quem eu escreveria agora?

Dumbledore nos advertiu para não comentarmos com ninguém a respeito de sermos uma horcrux. E, de todo modo, por que eu iria dividir com as pessoas que eu amava e confiava a informação cruel de que minha vida estava atada ao do bruxo mais perverso do mundo?

Ele precisava ser derrotado, afinal. Essa era a prioridade.

Minha mãe ficaria devastada se soubesse. Eu não tinha coragem de exterminar a esperança dela de que os Malfoy fizessem parte da nossa família... Se eu conseguisse nos unir e dar essa felicidade a ela, tudo ficaria bem.

Eu me agarrava a essa questão o máximo possível para não pensar no restante, mas era verdade que aquela depressão e ansiedade conhecidas me atacaram durante as últimas noites do ano letivo.

Sirius tinha nos deixado... Era tão perigoso pensar nisso, que meus pensamentos acabavam obrigando minhas pernas a ir até a Torre de Astronomia e ficar de pé no parapeito, considerando com muita seriedade se pular era uma boa ideia... Mas lembrar de Renie trucidava essa ideia. Querendo ou não, minha vida era a dele. E como eu livraria o mundo da ameaça que era Voldemort, se para isso tinha que sacrificar Renie? Era um pensamento insuportável.

Nós não falávamos um com o outro desde a conversa com Dumbledore. Aquela nuvem de luto voltou a nublar qualquer vontade de conversar.

Um dia antes da partida para as férias, eu vesti um biquíni para experimentar a água do Lago Negro sob o sol de junho. Debaixo da água, encarando a escuridão tenebrosa do fundo, senti aquela conhecida tentação de testar aquele desconhecido perigoso, especialmente naquele momento, quando havia tantos buracos em mim que nunca mais iam ser preenchidos.

Eu voltei para a superfície antes que eu colocasse a ideia em prática de novo. Eu me perguntava: isso era covardia ou coragem?

A água fria paralisava os meus músculos. E os olhos verdes de Harry, sentado à margem do Lago, deprimiram-me ainda mais.

— Lamento não ter contado sobre os sonhos — eu disse.

Ele balançou a cabeça em indignação e olhou para além do Lago, o semblante fechado.

— Eu não queria esconder nada, mas as coisas estavam tão confusas quando a gente chegou. Dumbledore tava estranho... e por que eu ia te contar sobre coisas que eu nem entendia, Harry?

— Você podia ter tentado.

— Eu fui boba, eu sei. Você disse que não queria falar do assunto... e eu não queria te aborrecer. E-Eu...

Levei os dedos molhados ao rosto para tirar as finas lágrimas que tinham caído.

— Eu fui idiota. O que aconteceu com o Sr. Weasley e o Sirius...

Harry fechou os olhos e forçou a mandíbula ao ouvir o nome.

—... eram coisas sérias demais e eu fiz um juízo de valor errado — eu disse.

Seus olhos continuaram longe de mim.

— O que Dumbledore disse a vocês? — ele perguntou.

— E-Ele só... Ele... Não era nada...

— Não minta...

Eu apertei meus lábios e me abracei.

O verde dos olhos dele estava insuportavelmente sério.

— Preciso ir, Harry...

Eu me puxei para fora do Lago e caminhei para longe dele, vendo tudo embaçado ao meu redor.

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