Que é amigo do tempo

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Renie e eu devíamos ter nos interessado em saber por que os criminosos da reserva estavam tão quietos e tinham nos deixado sozinhos ali na praia.

O local estava vazio e silencioso. Caminhamos por entre as árvores com as varinhas em riste e os ouvidos atentos, passos de pena.

— Você acha que querem atacar a gente? — perguntei.

— A gente tá em desvantagem. Se quisessem fazer isso, já teriam feito. Por aqui.

Passamos por trás de uma grande rocha. Renie dissera que sabia para que lado ir, mas apenas demos de cara com o mar. Andamos mais um pouco, de costas para o grande azul. Mesmo assim, aquelas três trilhas que vi quando entramos nunca chegaram. Não importava o que fizéssemos, a reserva se tornara um labirinto misterioso e impossível de decifrar. Até o mapa que usamos para chegar à profecia estava se confundindo e mudava as rotas o tempo todo.

Encontramos com a tal rocha após mais uma tentativa. Estávamos andando em círculos.

Não podíamos ficar perdendo tempo com aquilo. Dentro de três dias, seria impossível voar de volta para a Inglaterra sem a interferência da névoa.

— Posso aparatar pra lá — Renie disse quando externei esse pensamento.

— Onde? Em casa? Beco Diagonal? Hogwarts? Os Comensais estão controlando todos esses lugares! Além disso, você nunca saiu de casa pra conhecer qualquer outra parte de Londres. É arriscado...

— Nott deve ter colocado todo mundo daqui pra fora — comentou, olhando de modo pensativo para o horizonte, as mãos na cintura.

— Ele não pode tentar me matar nessa floresta, não é teto de família. Nem tem teto! E aliás... aquelas pessoas que moram aqui não iam simplesmente deixar a gente para os Comensais, né?

Seu olhar foi de encontro ao meu, com a resposta bem clara.

E todo aquele tempo que tínhamos para achar uma saída se perdeu. Setembro chegou e continuamos presos na reserva.

A comida que deveria ter na reserva sumira. Até as árvores frutíferas estavam secas e nada que transformávamos em alimento tinha gosto ou nutrientes. Renie conhecia um esperto feitiço para dessalinização, então tínhamos água, mas após alguns dias isso se tornou insuficiente.

— Estão tentando enfraquecer a gente pra depois atacar — concluí, deitada na areia e admirando o céu noturno com incontáveis estrelas.

— Somos muito intimidadores mesmo. — Seu tom era repleto de ironia e cansaço.

Renie estava se entregando àquilo bem mais rápido que eu. Ele não parecia interessado em desvendar a profecia. Eu também não achava que era sua responsabilidade, mas era difícil ter certeza do que ela significava e do que eu precisava fazer a respeito. Eu conseguiria unir nossas famílias mesmo sem machucar Theo? "Aqueles que foram separados" seriam os Tonks e os Malfoy? Se fossem, qual era o transporte do viajante?

Eu não queria desistir. Ainda tínhamos compromissos para atender com nossas famílias.

— A gente precisa conversar sobre como vamos matar a horcrux — eu disse.

— É.

— Fiquei lembrando dos sonhos que tive com Harry no quinto ano, com o diário de Tom Riddle. Ele me contou de umas conversas com Dumbledore, que ele...

— Na verdade, meu cérebro tá cansado pra isso agora... — Ele suspirou, deslizando o dedo indicador pela areia e fazendo desenhos aleatórios.

— Renie, a gente precisa ter certeza de como fazer isso. E se morrermos de fome e a alma continuar viva no nosso corpo?

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