É de calma café capaz

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Aterrissei na lareira, desesperada para me livrar da variedade de odores grudados em mim. Engatinhei para o tapete sobre o chão lustroso da mansão Malfoy, já estapeando minhas vestes para tirar a poeira. Abanei o ar para que minhas vias respiratórias ficassem livres do cheiro ardido de Pó de Flu, da essência de Beladona adocicada, asfódelo queimado e sangue de dragão, mas não funcionou muito. Eu sabia que devia ter me trocado antes de sair de Beauxbatons.

— Que roupa é essa? — a voz arrastada de Draco soou de uma poltrona de couro a poucos metros de mim.

— Nosso uniforme no programa. Eu não usaria, se as minhas melhores roupas já não estivessem queimadas e impregnadas com todo tipo de ingrediente.

— É horrível. Eles conseguiram me fazer odiar o brasão deles.

— Narcisa tá em casa?

— Faz umas horas que ela saiu.

— Bem-vinda de volta, senhorita, bem-vinda! — Fran disse, aparecendo com um craque.

Ela fez referências e pegou minha mochila para me acompanhar até o quarto.

Fran era uma amiga muito fiel desde que tive o mínimo de educação, no último Natal, para pedir que fizesse um feitiço proibido no banheiro dos seus senhores. Suas orelhas enormes abanavam de felicidade quando eu a ensinava a passar maquiagem e ela era muito gentil em fingir que minha ajuda para preparar a comida não era um desastre.

Nós duas disputávamos o primeiro lugar para a mais desastrada da mansão. Ficamos rapidamente habituadas a acobertar uma a outra quando Narcisa flagrava algo fora do lugar.

Depois da batalha no Ministério que ocasionou a captura de Lúcio, eu sabia que precisava ficar ainda mais próxima de Draco nas férias. Mas eu não contava que minha mãe me pedisse para passar todos os fins de semana da folga do Estudo de Poções na mansão. Eu sentia tanta falta de casa que mandava cartas para eles sempre.

Mamãe era muito repetitiva sobre a importância de dar suporte a Draco naquele momento e isso ficou comprovado, porque nem Blásio ou Theo apareceram durante as férias para saber como ele estava.

Depois de alguns dias convivendo com ele e Narcisa, eu entendia por que minha mãe queria tanto que fôssemos uma família. Eles me cativavam demais. Apesar da arrogância e das diferenças constantemente à vista, os dois tinham aquele brilho no olhar contando sobre o lado da família Black que eu não conhecia, que não era sempre regado com magia das trevas. Narcisa gostava de contar especialmente de quando ela e suas irmãs enfeitiçavam carros trouxas para apostarem corrida pela cidade de Londres ou andavam pelos corredores de Hogwarts no meio da noite para assaltarem a cozinha.

Eventualmente, Draco deixava de parecer o sangue puro rico que queria a atenção de todos o tempo todo. Ele tinha uma afeição carente pela mãe e derramava elogios sobre ela constantemente. Era bonitinho ver ele falar.

Eu observei meu reflexo no espelho do meu quarto. Draco tinha razão, o uniforme era terrível. O robe era de um bege e azul podres, com um cinto de couro largo ao redor da cintura que não combinava nada com o conjunto. O chapéu era do mesmo azul feio e eu só o usava nos dias mais frios de Pyrenees, onde ficava a Academia. O tecido da roupa era leve, mas as várias camadas, para ficarmos protegidos do clima, acabavam sendo pesadas de carregar.

Eu tinha acabado de me trocar quando Fran avisou que o jantar estava servido. Nem Narcisa nem Draco estavam à mesa naquela noite, o que jamais tinha acontecido nas seis semanas que eu estava ali.

— A senhora Narcisa ainda não voltou, senhorita, e o senhor Draco disse que não estava com fome. Pediu para que eu não o chamasse — a elfa disse.

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