Epílogo

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Renie

Mendel sorriu para mim, despreocupada comigo. Meu rosto se contorcia em caretas para afastar as lágrimas e a coceira no nariz, mas ela não estava nem aí. Estava usando um dos vestidos emprestados de Dora. Ela se balançava e dava saltinhos de felicidades. Eu não me lembrava por que ela estava tão feliz nessa foto.

Ao meu redor havia fileiras de monumentos como os dela, da altura do meu joelho, com fotos dos combatentes da Segunda Guerra Bruxa logo acima de inscrições talhadas na pedra cinza. A dela dizia "Amada filha e irmã". Olhei com rancor para o nome gravado sob sua imagem: "Mendel Black Tonks (neé Nott)". O ministério nos obrigou a incluir o sobrenome da família biológica por "formalidade". Mas ela nunca foi uma Nott... Famílias e amigos se reuniam ao redor das homenagens àqueles que morreram. Eu era o único diante de Mendel, e eu sabia que era por causa desse maldito sobrenome. Até onde todos sabiam, ela simplesmente fugira para a Bulgária durante a guerra para se esconder. As testemunhas do que ela fizera durante seus últimos meses eram consideradas tendenciosas. Até o Harry. Depois que ele testemunhou a favor dos Malfoy em seu julgamento, as pessoas concluíram que ele era estupidamente corajoso, o que manchava sua credibilidade para dar valor aos outros.

Astlyn se aproximou e enlaçou o braço no meu. Ela apoiou a cabeça em mim e eu fiz o mesmo, reconfortado pelo aperto de segurança que sua mão me dava. Ouvimos alguém aparatar na entrada do cemitério. Harry e Dino caminharam até nós abraçados e com sorrisos tristes para as fotos em seu caminho. Os dois deixaram rosas vermelhas diante de Mendel. Era sempre assim, mesmo após dezenove anos.

— E aí, como foi a reunião com o distribuidor da Grãos & Torrões? — Harry perguntou.

— Ele comprou o lote inteiro por 2000 galeões! — respondi.

— Isso é brilhante! Ninguém convence aquele cara a colocar a mão no bolso!

— Bom — Astlyn disse com um sorriso —, Renie descobriu que tem o dom da negociação depois que a Fúria de Barrete Vermelho foi em embora de vez.

— Seu gato deve tá deprimido ultimamente, né?

— Que nada — eu disse, sacudindo a cabeça. — Ele tá vivendo a vida dos sonhos, comendo e dormindo o dia todo. Nunca achei que um gato pudesse ser tão preguiçoso. Ele só chia pra pedir carinho agora.

— A empresa tá fantástica, pelo que parece, Renie — Dino comentou. — Vocês vão investir em outra filial? Eu conheço algumas pessoas interessadas...

— A gente tá pensando em diminuir o ritmo por um tempo — expliquei.

— Sério? Por quê?

— Vernan está quase na idade escolar, mas queremos que ele fique em casa um pouco mais. Sei lá, acho tão cedo. Vamos contratar alguém e ficar perto por enquanto...

— Posso ajudar nisso, se quiserem — Harry disse. — Mas tentem não acostumá-lo demais, ok? Lidar com os trouxas pode ser difícil, se você os conhece muito tarde.

— É, eu sei... — Astlyn disse, apertando minha mão. — Tenho medo por causa disso também... Ele não quer largar os robôs dele por nada...

Apontei para o garoto de cinco anos de pele clara e terno escuro, que olhava admirado enquanto Hermione conjurava passarinhos para diverti-lo.

— Ele vai ficar chateado quando as crianças forem pra Hogwarts semana que vem — Astlyn disse com um sorriso triste para ele.

— Vernan vai fazer o maior sucesso na nossa vizinhança com aqueles robôs, pode apostar — respondi. — A doninha chegou!

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