Numa casa sem pilar

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Mendel

Já fazia semanas que éramos reféns na mansão dos Selwyn. Explorando-a, descobri que possuía uma biblioteca a mais do que na mansão dos Malfoy, o que me causou uma irritação esquisita. Os livros no acervo dos Selwyn eram raros e muito difíceis de conseguir. Lúcio, mesmo em seu tempo de maior influência política, não conseguiria adquiri-los.

Em um dos retratos do santuário de Angela, encontrei uma fotografia sinistra dela com seus amigos sonserinos. Seus rostos tinham a maciez inocente de crianças e sorrisos muito contentes, os braços esquerdos estavam esticados para mostrar a imitação da Marca Negra feita a tinta na pele.

Eu me perguntei se Angela teria me instruído a seguir os ideais de Voldemort e me incentivado a receber aquela marca, se eu tivesse sido criada por ela. Crescendo naquela mansão, cercada de objetos das trevas e livros raros, abraçada por luxo, abençoada com renome, banhada de conforto e dinheiro, eu nunca teria sido atacada por Voldemort e sofrido as perdas que sofri. Eu teria tido a vida que eu procurava agora nos Malfoy. Pensando nisso, tive uma sensação estranha. O fato de eu ser uma horcrux impedia completamente que a vida como uma Selwyn fosse possível. Era um alívio não poder tomar uma decisão que magoaria tanta gente. Mas se eu pudesse...

— Tenho notícias — Theo nos disse, certo dia, interrompendo essa linha de raciocínio. — A primeira é que meu pai já foi avisado de que Mendel está aqui, mas está numa missão com os outros Comensais e ainda não pôde vir. A segunda é suculenta! Adivinha quem o Lorde das Trevas designou para procurar a Mendel no lugar do meu pai? Draco. E eu sei que a coisa entre vocês era séria na escola. Não quero que passem pelo mesmo que Daphne e eu, mas, Mendel... Não tente nada heróico se ele aparecer aqui, ou o Lorde das Trevas vai saber sobre vocês dois. Lembre do que eu te disse sobre já haver muitos heróis no mundo. Mas não se preocupe, nunca mais vamos nos ver depois disso tudo. Daphne e eu vamos viver uma vida no interior em breve...

— E a profecia dela? — perguntei. — Aquela que diz sobre os donos do coração dela. Você não tem medo que alguém vá atrás de vocês pra conquistá-la?

Theo sorriu para a sua varinha, tocando-a com muito cuidado.

— A profecia diz que os donos do coração dela dividem o mesmo pinheiro. A varinha do Flynn, aquele cara que dava em cima dela no ano passado, foi feita do mesmo pinheiro que a minha e da Daphne. Sempre soube disso, que era eu... Por isso sou o único que posso tirá-la daquele cativeiro.

— E vocês três vão fugir juntos pra viver um romance? — Evelyn disse.

Theo tinha os olhos mais apaixonados do mundo. Eu nunca o vira vulnerável daquela maneira. Seu rosto era traçado fortemente por ambição. Isso me tirou toda a esperança para convencê-lo a desistir daquilo.

Ele respirou fundo e olhou pela janela da sala.

— Quem é vivo sempre aparece — disse, sorrindo maldosamente para o lado de fora.

Em seguida, ele sacudiu a varinha, amarrando nós quatro no sofá com os lábios colados, tornando impossível qualquer grito por socorro. Alguém bateu na porta e Theo foi recebê-lo.

— Acho que você me deve uma — Draco disse.

— Eu sei, sua fuga. Eu tive um imprevisto — Theo respondeu casualmente.

— Me poupe das desculpas. Sabe o que tem acontecido?

— Eu posso imaginar...

— Vou te contar. Hogwarts tá uma merda. Os Comensais não têm ideia do que estão fazendo. Snape viajou há alguns dias, acho que isso é alguma moda entre os diretores. Ah, e a cereja do bolo: Crabbe e Goyle se assumiram. Dá pra acreditar?

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