Cordeiro caça

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Mendel

Era difícil, mas eu estava conseguindo me controlar para não roer as unhas como louca no meio do comunal. Draco dissera que o dia de colocar o plano com o Armário Sumidouro em prática chegara. A vantagem era que mais ninguém sabia disso e os sonserinos do sexto ano fizeram uma roda de conversa em frente à lareira, enquanto uma garrafa de hidromel transitava entre nós naquela tarde.

Falávamos sobre os trouxas. Theo e Daphne dividiam a mesma opinião sobre não se misturar com eles. Ela, inclusive, contou sobre as viagens que fez à lugares inteiramente bruxos, onde se podia construir monumentos mágicos nas ruas, falar do nosso mundo sem censuras, andar com o próprio mini puff no ombro à vontade... Eu me arrepiei ao ouvi-la. Parecia ser um lugar muito mais adequado para nós.

— Já imaginaram se nos deparamos com trouxas ignorantes, como aqueles que queimavam bruxos em fogueiras antigamente? — comentei, fazendo com que todos eles ficassem silêncio por um longo momento.

— Você odeia os trouxas agora? — Draco perguntou, encarando-me com a testa franzida.

— Ela tá entendendo a realidade das coisas, só isso — Theo disse, sorrindo orgulhoso para mim.

Dei de ombros em resposta.

— Eu tenho lido bastante o acervo de livros dos Black — eu disse. — As coisas que os trouxas faziam era desumano. E não é um assunto passado. Harry vive isso até hoje com os tios abusivos, muitos de nós vivem... Não é justo que a gente tenha que se esconder deles, esconder nossa magia... A família da minha mãe era meio doidinha, mas eles estavam protegendo um poder e uma cultura que pessoas como a Hermione não entendem.

Draco me encarou seriamente.

Fazia alguns dias que ele olhava daquele jeito esquisito para o meu interesse nas atividades historicamente desumanas dos trouxas contra nós. Era como se ele não quisesse que eu conhecesse o lado em que os bruxos eram as vítimas.

Mas ele devia querer, certo? Os Malfoy e os Black tinham um longo histórico de políticas contra o envolvimento com trouxas. Eu finalmente entendia o porquê. Pensar que perdi anos de conhecimento sobre meu próprio mundo era agonizante. Não ia ser a reprovação dele que me impediria de estudar.

Blásio interrompeu nossa roda de conversa ao entrar e anunciar para toda a sala que Sheridan jamais tinha ido para Azkaban. Evelyn e eu fingimos surpresa ao ouvir isso. Aparentemente, ele e sua mãe estiveram tentando mexer alguns pauzinhos dentro do Ministério para libertá-la, quando descobriram que ela nunca chegou à prisão e que os aurores abafaram isso para a mídia e a população não descobrirem. Ele interrogou nós duas sobre isso, sobre o que sabíamos, e dissemos que sabíamos tanto quanto ele. No restante da tarde, conversamos sobre onde Sheridan poderia estar.

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Era fim de tarde, a luz laranja maciça do sol iluminava o corredor à nossa frente. Draco estava nervoso demais para ficar parado, então passeamos pelo castelo e conversamos para tentar nos distrair. Não funcionava. Os ponteiros do meu relógio se arrastavam...

Meu estômago gelou quando notei, tarde demais, Harry se aproximando de nós.

— Posso falar com você? — ele me perguntou.

A mão de Draco começou a soltar a minha para nos deixar a sós, mas eu a apertei mais forte. Fiz isso porque Harry segurava ao lado do corpo um pergaminho escrito com a caligrafia fina de Dumbledore e me encarava com um lampejo de ansiedade nos olhos verdes. Ele ainda achava que podia confiar em mim. Engoli para fazer descer o nó melancólico na minha garganta.

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