Pequeno pequenique e pensamento é dividido

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Sou uma perfeita idiota, foi o que concluí quando acordei no dia seguinte.

Merlin... Como pude dizer aquelas coisas? Admitir que eu tinha ficado magoada com ele? Deixar ele saber que eu o comparava a Draco? Harry não podia saber de nada disso. Nós precisávamos ficar longe, para que assim eu pudesse apagar o que sentia. Um dia, eu podia conseguir.

Naquela noite, no entanto, ele protagonizou todos os meus sonhos. Sonhos perfeitos, retratando realidades que até então eu não tinha percebido o quanto queria. Minha mente o fez dizer exatamente o que eu queria ouvir, moldou os olhos verdes dele para me olharem com amor, trouxe suas mãos para me segurarem como eu precisava, trouxe o corpo quente dele para me aquecer.

Era tão utópico, tão distante da realidade, mas prendi cada uma daquelas imagens falsas comigo. Queria elas, nem que fosse em sonhos. Quem sabe, um dia, nós fôssemos amigos e eu pudesse assistir a ele ser feliz? Ao lado de uma pessoa que não acertasse balaços nele... Queria poder admitir em voz alta o quanto o admirava e que eu detestava aquela distância tão grande entre nós dois.

Não posso sentir essas coisas. Draco precisa de mim. Draco estava sendo vítima da crueldade de Voldemort, do mesmo modo que Harry e Lander tinham sido. Eu não podia dar as costas ao sonserino. Ele não merecia ficar mais sozinho. Ele era bom comigo e, aos poucos, certo, bem devagarzinho mesmo, ele estava se tornando uma pessoa melhor. Eu não queria jogar fora os últimos meses que passamos.

Mas Harry podia estragar tudo isso. Depois dessa discussão no corredor, aquele meu lado mais ingênuo do quinto ano, que tinha tanto idealizado ele como alguém perfeito, agora sabia que ele pensava diferente de mim, e que, com certeza, ele ia contar a Dumbledore que Draco era um Comensal. Se já não tinha feito isso...

Desci para o comunal, avisei a Draco que precisava resolver uma coisa antes do café da manhã e parti para a sala do diretor. Eu estava ao pé da gárgula, quando Harry se aproximou pelo corredor com passos decisivos.

— Não faz isso — eu pedi.

— Confia em mim, vai ficar tudo bem, eu pensei sobre isso — ele disse num atropelo, sinalizando com a mão para eu me acalmar. — Você quer protegê-lo, eu sei. E eu não quero que mais ninguém saia machucado dessa história, Mendel. Nem ele.

— Isso tá além do Malfoy, Harry! — insisti. — Se Voldemort descobrir que essa informação chegou aos ouvidos de Dumbledore, ele vai matar o Malfoy, sim, mas também vai matar eu, Renie, minha família toda...

— Do que tá falando? Por que ele faria isso?

Eu o puxei para a sala vazia mais próxima (era assustador a quantidade de salas vazias naquela escola) e enfeiticei a porta com o Abaffiato. Ele me encarou de olhos arregalados, atento ao que eu tinha para falar.

— Me escute com muita atenção, Harry. Existe uma magia chamada horcrux. Ela é usada pra proteger um pedaço da alma do bruxo, assim ele não vai morrer se seu corpo for atacado. Normalmente, ela é feita de propósito pelo dono da alma, mas eu e Renie viramos uma horcrux de Voldemort quando ele tentou nos matar. Acredite em mim, quero derrotá-lo. Mas já estamos condenados e não temos muito tempo. Eu só quero aproveitar o tempo que me resta pra não deixar Draco e Narcisa acabarem como Lúcio, e dar a minha mãe a família que ela tanto quer...

— Calma, calma aí, Mendel! — ele disse e agitou as mãos para impedir que eu continuasse falando. — Há quanto tempo você sabe desse negócio de horcrux?

— A gente suspeitava desde o ataque. O feitiço que a gente usou contra ele, que você leu no meu diário, servia pra atacar a alma... Mas a gente não tinha a menor experiência nele, então a alma se dividiu dentro de nós dois pra se proteger.

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