O tempo e a rosa dispõem de prosa

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Era o segundo tempo de Poções do quinto ano.

Minha excitação costumeira tinha sido empurrada de lado pelo nervosismo com aquele antídoto para a Amortentia. Ele só não era mais complicado que a própria Amortentia, então precisávamos aprender a curar os efeitos dessa poção antes de chegarmos perto de lidar com ela.

— Me empresta a sua faca? — eu disse enquanto arrancava a pele sebosa do visgo do diabo abatido.

Malfoy arrastou a lâmina na mesa, com seu queixo apoiado na mão, a mesma posição em que estava desde o início da aula.

— Talvez fosse melhor se você me deixasse fazer alguma coisa — ele disse. — A avaliação é em dupla, Tonks.

— Hum, vamos esperar Snape chamar a nossa atenção.

— Você sabe que ele não vai fazer isso.

— Hum.

— Eu quero fazer também.

— Toma, pica mais um pouco a ararambóia.

Ele revirou os olhos e empurrou de volta a pele verde da cobra em dispensa.

Puxei o último acônito para ser acrescentado, mas Malfoy segurou minha mão quando estava bem em cima do caldeirão e a virou, mostrando um inconveniente pedaço de pele grudado na parte de baixo. Eu o arranquei fora imediatamente, meu coração desembestado de pavor.

Ele checou o horário no meu relógio, seu pescoço tão próximo que eu podia sentir o perfume inebriante que usava.

— Faltam dez minutos ainda, devia fazer com mais calma — ele disse.

Ao final da aula, nós arrolhamos o antídoto e Malfoy foi entregá-lo a Snape. Quando voltou, eu estava enchendo meu próprio frasco com uma porção. Ele arqueou uma sobrancelha em dúvida para mim.

— Eu ainda não tenho um desses no meu engradado — eu disse.

— Você tem um engradado de poções?

— É, algumas poções demoram a ser feitas, então comecei a guardar todas que faço, caso eu precise.

Malfoy riu de mim e balançou a cabeça. Nós juntamos nossas coisas para sair e seguir para o jantar.

— Se não se importam, eu gostaria de ter o meu parceiro de Poções e de todas as outras aulas de volta — Blásio disse ao se meter entre nós dois sem ser convidado e passou os braços por nossos ombros. — Nott me corrige mais do que aquela Pena Autocorretora que você me emprestou, Tonks.

— Malfoy é um ótimo parceiro, melhor chegar num acordo com ele então — eu disse.

— E ela não troca o sentido horário pelo anti-horário toda vez — Malfoy disse sem olhar para ninguém em específico.

— Era só o que me faltava... — Blásio resmungou e seguiu sozinho o restante do caminho para o Salão Principal.

Na mesa da Sonserina, o meu estômago se revirou sob o olhar mortal de Pansy para Malfoy e eu.

Não parece boa ideia nós dois agirmos como seres humanos civilizados um com o outro na frente dos outros...

Era quase metade de fevereiro. Àquela altura, conversar com Malfoy era fácil como respirar... Tirando o tema "Umbridge e um Malfoy quebrando as regras com uma mestiça", nós conseguíamos conversar sobre tudo.

Certo, era verdade que ele era mil vezes mais mimado que eu pelos pais e jamais se deparara com a dificuldade financeira para conseguir alguma coisa, nem precisou desistir do que queria para dar prioridade a um irmão. Mas o amor de meus pais, Lúcio e Narcisa era tão incondicional, e nós dois éramos tão igualmente apegados a isso, que nossa devolutiva era igualmente intensa...

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