Terá verdade concedida

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Renie

Astlyn sentou de frente para mim com uma naturalidade irritante e me olhou. Eu sustentei, firmemente, seus olhos verdes cheios de expectativa.

Caramba, ela precisa entender que a vontade dela de fazer as coisas darem certo não vai ser o suficiente dessa vez, pensei.

Eu queria ser capaz de sair dali sem dizer nada e deixar as coisas como estavam, como fiz na primeira vez. Se ficássemos naquele impasse, as coisas pelo menos não estariam acabadas.

Mas eu não conseguia.

Dar as costas a ela naquele momento e ir preparar minha viagem para a Bulgária era colocar o relacionamento num baita risco. Ela tinha o pavio meio curto e, àquela altura, eu já sabia que perder Astlyn seria uma das maiores tragédias da minha vida.

Fechei meus punhos ao lado do corpo para segurar a vontade de contar a ela sobre profecias e horcrux e que aquele pesadelo do ataque de Voldemort ainda não tinha ido embora. Eu acreditava que essas coisas precisavam ficar separadas do nosso relacionamento.

Astlyn aceitaria de bom grado ir comigo até a Bulgária e me dar cobertura para invadir o Ministério. Depois de ter domado um dragão para eu não ser atacado, pulado no lago frio de Durmstrang sem saber nadar para impedir que seu ex namorado me afogasse, e espalhado para toda a escola que Voldemort tinha voltado quando fomos atacados, mesmo com seus pais a repreendendo e eu dando as costas a ela para mergulhar no luto, eu sabia que podia confiar nela para encarar qualquer coisa. Mas era justamente pela coragem dela que eu não queria que ela se envolvesse.

— Odeio essa sua cara — ela disse.

— Então não sei pra quê você veio.

Ela se aprumou na cadeira e jogou o cabelo por cima do ombro.

— Eu pensei muito, Renie. Toda a minha vida está na Bulgária e você sabe que não posso transferri-la pra cá. Se eu aceitar aquele estágio, vou passar vinte e quatro horas por dia, sete dias da semana enfiada nele. Mas eu posso ser feliz com uma vida diferente, se estiver aqui com você...

— Caramba, o problema não é ir morarmos na Bulgária, o problema é morarmos juntos!

— Mas você disse que não queria terminar!

— Eu não quero. É que você tá atropelando as coisas. Eu preciso colocar minha vida no lugar primeiro.

— A gente pode se ajudar.

— Você não entende o que tô dizendo.

— Então me explique. Ou senão vou ficar convencida de que você não quer mais continuar.

Aquele pânico de chegar tão perto da palavra término começava a ferver no meu estômago.

— Tem certas coisas que preciso fazer sozinho — eu disse.

— Me conta o que tá acontecendo.

— Não posso.

— Por que é que de repente você não confia em mim? — Ela descansou as costas no encosto dá cadeira, com seu braço largado sobre a mesa na minha direção. Era como se me oferecesse sua mão. — Você nunca foi desse jeito, nem na escola. Você me contava até qual a fragrância do seu xampu, mesmo que fosse só parra jogar charme pra cima de mim.

— Eu confio em você.

— Então prove.

— Você não tá me dando espaço, caramba...

Ela respirou fundo e fez uma cara irritante de alguém que tenta explicar algo para uma criança.

— Eu já dei mais espaço do que você merece. — Para piorar, ela viu a necessidade de enfatizar suas palavras batendo a unha na mesa. — Agora, a gente precisa tomar uma decisão, porque eu quero ter uma vida de verdade com você.

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