Em casa da rosa carece de mais

34 5 0
                                    

— Ótima escolha de onde aparatar! Francamente, essa sua fixação com telhados... — eu reclamei, ouvindo o barulho ameaçador da cerâmica em que pisávamos.

— Assim é mais legal — Renie disse com uma indiferença irritante.

— Tá brincando, né? Tira a gente daqui!

— Anda, vai fazer bem pra você.

— Mas você não sabe...

— Claro que sei o que faz bem pra você ― ele me interrompeu para me contrariar. — E vou te contar, essa dor de cotovelo enrustida tá deixando você amargurada.

A rua trouxa estava silenciosa. Os focos de luz amarelada dos postes pontilhavam o asfalto além do que a vista alcançava. Eu fiquei observando-os para evitar seu olhar.

— Olha, não vou te obrigar a ficar cara a cara com Harry depois daquela explosão de raiva que ele teve na sala do Dumbledore. Mas acho que você podia tentar. Que bem pode fazer ter o Eleito como nosso inimigo? — ele disse.

Era verdade que eu queria uma oportunidade para ver Harry. No entanto, a ideia desse momento parecia tão distante, até então, que vivê-lo me amedrontava.

Fechei os olhos para me concentrar em respirar fundo, reunir coragem e assenti com a cabeça. Nada pode dar errado, eu pensei, esperançosa. Já faz meses, tudo está bem agora.

— Vai, se pendura na beirada e apoia os pés no parapeito. Facinho — Renie disse.

Eu segui a dica enquanto ele ficava deitado de barriga para baixo no telhado para assistir. Os dedos dos meus pés reclamaram sob meu peso. A janela continuou parada quando tentei empurrá-la. Minhas bonitas unhas pintadas de verde escarlate bateram no vidro.

Harry acordou de sobressalto na cama, largando a pena que segurava e deixando cair um pergaminho do colo.

— Mendel! — ele exclamou, com os olhos arregalados de surpresa.

Apertei meus lábios num sorriso e apontei silenciosamente para o trinco da janela.

— Se a gente pode ouvir ele, então ele também pode te ouvir, idiota — Renie disse.

— Ah, é... — eu disse.

Harry subiu o vidro da janela com o semblante ainda espantado. Eu fechei meus dedos com mais força na beirada do telhado, quando o suor tomou conta deles. Meu coração latia como um segundo ser vivo esquisito e desesperado para receber atenção.

— Oi, Harry! — eu disse com meu melhor sorriso.

— Oi... Como... Como você chegou aqui?

— Vantagens da Aparatação — Renie respondeu, arrastando-se para poder entrar no campo de visão de Harry.

Harry deu uma risada nervosa e balançou os braços, sem jeito, como se não soubesse o que fazer com eles.

— Hum, posso entrar? Eu não tô em dia com o quadribol, então meus braços estão meio fracotes — eu disse.

— Ah, é, sim, claro...

Ele ajeitou os óculos e eu aceitei sua mão como apoio. Pisei com a ponta dos pés em sua mesa de cabeceira e seu braço atrapalhado rodeou minha cintura para me guiar. Eu perdi o equilíbrio e chutei seu tinteiro sem querer, que se partiu no piso.

— Poxa, foi mal — eu disse ao pular do criado, vendo a mancha negra se espalhar pelo chão.

— Tudo bem. É só que... acabei de comprar.

— Ela vai te dar o dela, relaxa — Renie disse. — Vou nessa. Juízo, crianças.

Ele ignorou meu olhar feio e fez crack para sumir.

Perversa Magia ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora