M de Mendel

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O homem de cabelo preto me arrastou para o porão. No instante seguinte, eu estava envolvida pela escuridão e ouvia o bater da porta ressoar pelo local.

Eu me agarrei ao corrimão da escada para ter algum senso de direção naquele escuro sem fim. Tateei as paredes procurando o lampião que ficava ali. Dois braços finos e escorregadios, melados de algo fedido, roçaram em mim, tentando penetrar a minha pele. Tropecei para trás e bati a cabeça num degrau, ao mesmo tempo em que lembrava que aquilo eram apenas os ramos de uma planta mágica que crescia na umidade dos porões. Eu tinha sugerido que Narcisa tirasse aquilo dali, mas que pressa ela tinha? Pelo que Draco contara, nenhum deles tinha o costume de usar o porão.

A porta abriu e derramou a luz do dia por cima de mim, interrompendo meus pensamentos.

E eu fiquei tão pequena quando reconheci quem descia...

Apertei no meu bolso a Chave de Portal que Renie tinha feito com nosso sangue e, como ele previra, não funcionava... Voldemort estava na minha frente e não havia nada que eu pudesse fazer.

Meu conhecimento, meu coração, meu orgulho, minha determinação, tudo isso se tornou insignificante diante daquele bruxo.

De repente, eu estava em casa, um ano atrás, com Lander, Renie e Perina de varinhas em punho, temendo pela minha vida, sabendo que estava por um fio.

Minhas costas encontraram a parede de frente para a escada para manter o máximo de distância possível, mas, mesmo assim, a maldade nos olhos daquela figura pálida e desumana era palpável.

No fundo da minha mente, estava a dor da minha cicatriz, abafada por outro tipo de dor.

Era a primeira vez que eu ficava de frente com ele de verdade desde que meus amigos foram assassinados, e eu não tinha varinha, não tinha uma poção, não tinha nada para destruí-lo. Era como estar nua.

As lágrimas no meu rosto me machucaram como estalactites ardidas, devido à temperatura baixíssima do porão.

Eu não podia imaginar o que levava uma pessoa a ser tão cruel com seres humanos como ele era. Será que eu devia ter piedade dele? Será que toda aquela maldade estava fora de seu controle?

Mas eu não conseguia encontrar nenhuma brecha para ter piedade...

Isso me torna tão ruim quanto ele?, pensei.

Ele se aproximou mais.

A porta bateu atrás dele e a luz amarelada dos lampiões se acendeu.

Eu me apertei contra a parede diante daquele rosto horrível, tentando me manter de pé apesar da tremedeira dos meus joelhos.

Minhas coxas estavam frias e tive que olhar para baixo para ter certeza de que aquilo estava acontecendo... Minha calça estava manchada, o cheiro de urina impregnou todos os meus sentidos. A risada dele intensificou a minha humilhação.

Tentei erguer barreiras na minha mente antes que ele tentasse uma invasão aos meus pensamentos...

Porém, Voldemort fitou meus olhos imediatamente, como se eu lhe tivesse feito uma ofensa por enfrentá-lo, e aqueles socos no meu cérebro voltaram, reconhecendo que eu tentava a Oclumência contra uma Legilimência poderosa, como fiz na sala de Dumbledore.

A dor pulsou no mesmo ritmo desembestado do meu coração. Os socos eram impacientes e raivosos, enquanto meus pensamentos eram invadidos. Ele pedia passagem para a minha mente e eu fiquei acuada como um bichinho.

Eu não conseguia mais...

O porão foi substituído pelo dia em que contei a Harry sobre sermos uma horcrux.

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