Morte, o cordeiro cuida

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Orgulho era justamente o que eu devia estar sentindo naquele momento. Certo? Eu queria sentar ao lado de Malfoy durante as aulas, rir com ele sem ser acusada, segurar sua mão sem ser rejeitada. Então, precisei entrar na Brigada Inquisitorial, para que os outros acreditassem que pensávamos igual, que ele ainda apoiava a sua família. Meu nome não podia estar na lista da Armada. O distintivo de Umbridge era carregado no meu peito e eu estava fazendo a patrulha com ele.

Eu estava orgulhosa. Minha mãe ia ficar orgulhosa de mim também. As patinhas de formiga se fincaram na minha pele com um arrepio forte ao pensar nela. Eu jamais podia decepcioná-la como aquele Bicho-Papão tinha mostrado.

Não era muita coisa: entrar para a Brigada, tirar meu nome da Armada. Certo? Eu não simpatizava de verdade com Umbridge, eu vivi o retorno de Voldemort, eu sabia que precisávamos nos defender. Eu sabia... Eu estava orgulhosa.

Então, por que a culpa rolava várias e várias vezes por cima do meu coração, como um pesado rolo de massa? Ele rolou uma vez, quando Harry viu, desapontado, o distintivo da letra I se exibindo na minha capa. Ele rolou outra vez, quando a vontade dos grifinórios de me ignorar foi tão grande que foi com Renie que tiraram satisfação sobre o sumiço do meu nome da lista. Ele rolou outra vez, quando a Sra. Weasley me mandou ovos de Páscoa em nome de Sirius, e Rony atirou-os para mim com grande má vontade. Ele rolou outra vez, quando percebi que, se Hermione não tinha um motivo justo para me odiar antes, tinha agora. Ele rolou outra vez, quando percebi que Harry tinha todo o direito de concordar com ela nisso.

Tinha se tornado um hábito masoquista meu, observá-lo de longe, suspirar por causa de alguém tão distante de mim. Mas como eu podia não olhar? Ele era lindo, o sorriso inocente e divertido me deixava inebriada. O jeito como ele mexia nos cabelos bagunçados... Era a desordem mais bonita que eu já tinha visto...

Eu me encontrava amassada pelo rolo. Eu não merecia aquela tortura. Eu tinha feito o que fiz pela minha mãe, uma pessoa que não merecia entrar naquele estado decadente de depressão. Ela tinha abrido mão da sua família pelo amor ao meu pai; ela se manteve afastada de Narcisa para garantir a nossa segurança; ela me amava do jeito que eu era e contava comigo para fazer uma coisa boa.

Eu estava orgulhosa. Mas o rolo de massa continuava amassando...

Envolvi meu corpo com os braços, apertando-me contra as almofadas do sofá. A sala comunal estava quieta. As férias de Páscoa tinham começado e boa parte dos alunos tinha viajado. Os quintanistas tinham ficado para estudar para os NOMs.

O livro de Trato das Criaturas Mágicas estava arreganhado no meu colo, como uma boca aberta cheia de dentes que não faz nada, ameaçando-me silenciosamente. Já fazia duas horas que eu tentava memorizar Os habitats mais comuns de Testrálios.

— Consegui! — Evelyn disse, jogando-se no assento ao meu lado.

— Tirou tudo?

— Claro que tirei. Aquela tinta era super tóxica, achei que eu ia ficar cega. A Weasley me ajudou. Isso era o mínimo que ela devia fazer, lógico.

Eu dei uma risada fraca de descrença com sua severidade.

— A pegadinha era dos gêmeos e não dela — eu disse.

— Acho que ela parecia bem culpada.

— Ou ela queria uma desculpa pra ficar sozinha com você no banheiro.

Evelyn deu de ombros e fitou a lareira. Sua unha ficou presa entre os dentes para ser lascada aos poucos por aquele nervosismo esquisito.

— O que você tem? — eu disse.

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