Um arranjo de Merlin

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Histórias nocivas, maldosas, criadas para chamar atenção. Segundo Umbridge, era isso que Harry e eu estávamos fazendo e por isso precisávamos escrever "Não devo contar mentiras" no pergaminho durante a detenção.

Escrevi o mais rápido que pude, esperando ser liberada ao fim da folha, mas ela não reagiu como eu esperava ao meu olhar de expectativa. A professora sorriu para mim um sorriso amável, como uma avó alheia ao senso comum mas que cuida de você, mesmo que você seja travesso. Então, eu me senti uma idiota. Virei a página e continuei no verso.

As horas eram intermináveis naquela sala recheada de rosa, raiva e injustiça. O sangue na minha cabeça me deixava tonta e minha letra era tão pequena que eu ainda estava escrevendo quando Harry terminou sua parte.

— Mão — disse Umbridge.

Eu não tinha entendido o que ela quis dizer, até que, para o meu choque, Harry ergueu a própria mão ensanguentada. A pena que ele usava possuía uma fitinha vermelha perto da ponta, que na minha não existia.

— Parece que não gravou fundo o bastante — ela concluiu com um suspiro.

— Mas, pro-professora... Você não pode machucar um aluno assim! — eu disse, apertando as beiradas da mesa.

— Machucar um aluno? Mas eu não machuquei ninguém, senhorita. Teremos que continuar durante a semana, senhor Potter. Podem ir...

Harry forçava a mandíbula com rancor para as marcas em sua mão. Ele agarrou sua mochila e disparou para fora da sala.

— Por que só ele precisa da semana inteira? — eu disse à professora.

Ela sorriu com amabilidade outra vez e se aproximou de mim, até que a sua presença de autoridade era a única coisa que eu conseguia discernir.

— Nós duas sabemos que você não é como os demais, senhorita — ela disse.

— Não sou?

Umbridge fez um aceno de negação com a cabeça. Ela chegou mais perto para diminuir ainda mais o tom de voz:

— Entende, ao contrário dos demais alunos, a senhorita é esperta e reconhece a importância da disciplina. Não é verdade que Durmstrang tinha métodos práticos para ensinar sobre hierarquia, por exemplo, a meninas do primeiro ano que falam em excesso durante a aula de Herbologia?

Ela se aproximou mais e eu tive que esticar minha mão para me apoiar na cadeira e não tropeçar para trás. Fiquei encabulada demais para conseguir olhá-la de volta, porque a professora sabia exatamente a lembrança que me mortificava nesse momento. Eu costumava ser muito empolgada com a escola nos primeiros anos, e, em algumas aulas mais chatinhas, ficava mais interessada em fazer amigos do que em prestar atenção. Perina e eu nos conhecemos assim, cochichando nos fundos da sala sobre tinteiros com cheiro de morango, o lançamento daquele ano na Bulgária. Ao fim da aula, fomos levadas ao porão da escola pelo professor de Herbologia para aprendermos sobre quem ditava as regras e quem devia obedecer. Eu não me lembrava exatamente o que precisamos fazer. Nós duas jamais falamos a respeito disso depois.

Umbridge me observava da mesma maneira curiosa que havia feito durante o nosso julgamento no Ministério, por isso, imaginei que ela possuía acesso a todas as informações a respeito do meu tempo em Durmstrang.

— Não torne isso mais difícil para você mesma, senhorita. Faça o favor de se retirar.

Ela ainda sorria aquele sorriso inocente e meu estômago embrulhou de enjoo, então juntei minhas coisas e me retirei, olhando apenas para o chão.

Harry já estava quase no fim do corredor quando consegui alcançá-lo.

— Você precisa contar ao Dumbledore — eu disse ao emparelhar com ele.

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