Deita-se, a morte

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Em algum momento, debruçada sobre o corpo gelado de Paris, comecei a chorar e a berrar até que superei o barulho da festa e um monte de gente veio ver o que acontecia.

Alguém ficava insistindo que eu saísse de cima dele e fui puxada e levada para o escritório de Dumbledore, onde tive que dar uma explicação para o que eu não entendia.

Não importava que Madame Pomfrey dissesse que os doces de fada mordente eram letais para abortos e trouxas e tentasse me tranquilizar, já que eu não sabia. Se eu não fosse tão ignorante e tivesse aprendido o básico sobre os trouxas, eu não teria cometido tal fatalidade. Nott tinha razão. Eu devia ter aprendido sobre a história deles.

À noite, eu estava na Torre de Astronomia, bebendo de uma garrafa de hidromel.

Alguns alunos sem coração acharam uma boa ideia perpetuar o clima de festa mesmo diante de uma tragédia. Manter a comemoração para "acender nossas esperanças", como tinha dito Dumbledore, fazia algum sentido para eles.

— Insensíveis... Idiotas... Paspalhos... Eles não iam comemorar se fosse o amigo deles... Eles não iam comemorar se eles fossem a merda de uma horcrux...

— Tá resmungando em búlgaro de novo? — Draco perguntou, surgindo da escada vestindo seu ridículo terno impecável.

— Vai embora.

— Quer ficar sozinha?

Suspirei de olhos fechados. Meu bafo de hidromel estava tão doce que me enjoava.

— Não. Eu-quero-que-tudo-pare — falei pausadamente. — Quero que o sol nunca mais nasça, que esses imbecis parem de cantar, que essa coisa de-dentro de mi-mim morra e... e... e que v-vá pro inferno qu-quem inventou o mu-mundo...

Meus soluços sufocaram minha respiração e o choro atacou de novo.

Bebi mais do hidromel, que era a única coisa boa na minha vida naquele momento.

Draco sentou ao meu lado com um cotovelo apoiado no joelho. A visão de sua beleza era a segunda coisa boa na minha vida.

— Eu prometi... Eu prometi que ia fazer valer a pena o fato de ter sobrevivido ao sequestro... E aí o matei... E eu não sei lidar com isso... As pessoas continuam morrendo e eu continuo chorando... E você.... Eu quero que você seja feliz, Malfoy, e eu queria ser a pessoa que vai te fazer feliz pra sempre, ma-mas...

Tudo que eu dizia começou a perder o sentido, mas Draco continuava a me doar sua atenção, como se entendesse tudinho. Para a minha felicidade, ele recusou todas as vezes que ofereci o hidromel, e pude terminar a garrafa sozinha.

E só lembro de ter acordado na minha cama na manhã seguinte.

Primeiro, achei que fosse a minha imaginação, mas eu ainda podia ouvir música, cantoria e gritos vindos de algum lugar. Com a visão embaçada e o corpo dormente, vi que Daphne estava sentada em sua cama, lendo o livro de Transfiguração e fazendo anotações.

— Eles trouxeram a festa pra sala comunal? — perguntei com a voz pastosa.

— Alguns têm o bom senso de não se misturar com os alunos mais novos e é mais fácil os monitores vigiarem aqui dentro.

— Que horas são?

— Oito. As aulas de hoje foram canceladas.

— Como eu cheguei aqui, por Merlin...?

Eu me arrastei para me sentar. Fiquei de olhos fechados, meu corpo todo pesava.

— Malfoy trouxe você para o comunal e pediu para eu te deitar.

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