A peripécia na vida de Lúcio Malfoy

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Os cobertores preservavam cada centímetro do meu corpo, os grandes e fofos travesseiros faziam uma barreira de proteção ao redor da minha cabeça. Pela janela meio aberta os flocos de neve do início do dia invadiam o quarto e brincavam de rodopiar no chão.

Eu tinha levantado para fazer o feitiço de animagia, mas me refugiei de volta na cama contra o frio e estava muito confortável na minha fortaleza para levantar e fechar a janela.

Antes de dormir na noite anterior, cobri os quadros do quarto com lençóis que encontrei no armário, sob a viva impressão de que os animais e os bruxos me observavam por trás da imagem estática.

O fichário sobre os Daliev estava aberto na ponta da cama. As fotos se espalhavam por cima dos post its quebradiços de anotações antigas e os recortes de jornal velho. O prefácio da biografia da tataravó Daliev estava no meio da biografia do único membro masculino da família vivo atualmente; as cartas relatando experimentos com poções eu tinha, com muito descaso, guardado nos envelopes (depois de levá-las para o banheiro em que podia fazer magia e usar o Feitiço de Duplicação em cada uma). Eram tesouros que eu jamais teria a oportunidade de encontrar novamente.

Eu estava dando chá de cadeira naquelas informações que, de certa forma, eram uma afronta a quem eu realmente era.

Soprei o ar por dentro das cobertas, frustrada.

É isso ou ser perseguida por Belatriz...

Eu puxei o fichário para ler as páginas restantes, com aquele nó no peito de toda vez que me deparava com alguma informação capaz de evocar as lembranças de Durmstrang...

Alguém deu duas batidinhas na porta.

Eu me joguei pela beirada da cama e puxei meu gorro para enfiar na cabeça e esconder a desordem vergonhosa do meu cabelo antes de deixar que a pessoa entrasse.

— Achei que já tivesse levantado — Malfoy disse ao se deparar com o meu estado e desviar o olhar para o chão.

— Eu tinha, é que...

A vergonha entupiu meu fluxo de pensamentos quando ele parou seu olhar nos quadros cobertos pelos lençóis.

— Se quer saber, ninguém vai pular dali pra atacar você — ele disse.

Eu forcei um sorriso nervoso e torci os cobertores nas mãos.

— Já vou descer.

— Alguns convidados vão levar um tempo pra irem embora... Eu vou caminhar até a hora do almoço, então, se quiser vir comigo... — Ele pousou o olhar na bagunça da cama por um momento — me encontre no hall.

— Vou só me arrumar — eu disse.

Ele me olhou por míseros segundos antes de se virar e sair do quarto.

A mansão estava silenciosa quando desci as escadas. Por uma das grandes janelas da sala de estar era possível ver Lúcio e Narcisa sentados a uma mesa em meio à neve, conversando com dois convidados da festa.

Apenas uma das portas do hall de entrada estava aberta e na outra Malfoy estava encostado, observando o jardim e dando mordidas numa maçã verde.

As sebes de teixo que ladeavam o caminho para o portão tinham sido cobertas com um manto de neve, da mesma forma que o gramado. Eu mordi os lábios para conter a vontade de me jogar no chão e bater pernas e braços para desenhar anjos no jardim, como fazíamos em casa.

— Aposto que nunca se cansa de olhar pra isso — eu disse ao lado de Malfoy.

Ele me olhou de canto de olho por apenas um segundo.

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