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"E eis o que sonhamos: sonhamos com o arquétipo de Mulher Selvagem, sonhamos com a reunião. Nascemos e renascemos desse sonho todos os dias e criamos a partir da sua energia o dia inteiro. Nascemos e renascemos noite após noite desse mesmo sonho selvagem, e voltamos à luz do dia com um pelo áspero na mão, com as solas dos pés negras de terra molhada, com o cabelo cheirando a mar, a floresta ou a fogão a lenha.
É vindo dessa terra que voltamos para nossas roupas, para nossas vidas do dia a dia. Voltamos daquele local selvático para nos apresentarmos diante do computador, diante da panela, da janela, do professor, do livro, do freguês. Instilamos o mundo selvagem no nosso trabalho, na criatividade no mundo dos negócios, nas nossas decisões, na nossa arte, no trabalho das nossas mãos e do nosso coração, na nossa política, nos nossos planos, na vida familiar, na educação, na indústria, nas relações exteriores, na liberdade, direito e dever. O feminino selvagem não é apenas sustentável em todos os mundos; é ele quem sustenta todos os mundos.
Vamos admitir. Nós, mulheres, estamos construindo uma terra natal, cada uma com seu próprio lote de terra extraída de uma noite de sonhos, um dia de trabalho. Estamos espalhando essa terra em círculos cada vez mais amplos, bem devagar. Um dia, ela será uma terra contínua, uma terra ressuscitada de volta dos mortos. Mundo de la Madre, a terra natal psíquica, que coexiste e é equivalente em todos os mundos. É um mundo feito da nossa vida, dos nossos gritos, do nosso riso, dos nossos ossos. É um um mundo que vale a pena criar, no qual vale a pena viver; um mundo em que predomina uma sanidade honesta e selvagem.
A palavra reclamation vem do francês antigo reclaimer, que significa 'chamar de volta o falcão que se deixou voar'. Isso mesmo, fazer com que algo do mundo selvagem volte a ser chamado. Pelo seu significado, ela é, portanto, uma palavra excelente para nós. Estamos usando as vozes da nossa mente, da nossa vida e da nossa alma para chamar de volta a intuição, a imaginação; para invocar a Mulher Selvagem. E ela aparece.
As mulheres não podem fugir a isso. Se for preciso haver uma mudança, somos nós essa mudança. Nós temos dentro de nós La Que Sabe!. Aquela Que Sabe. Se quisermos mudanças internas, cada mulher deverá compreender a sua. Se quisermos que haja mudanças no mundo, nós, mulheres, temos nossos próprios meios de ajudar a realizá-las. A Mulher Selvagem sussurra palavras e os meios, e nós obedecemos. Ela esteve correndo, parando e esperando para ver se vamos alcançá-la. Ela tem algo, tem muitas coisas, para nos mostrar.
Por isso, se você estiver a um passo de escapar, de assumir riscos — se ousar a agir de modo proibido, procure cavar para encontrar os ossos enterrados mais fundos, fazendo frutificar os aspectos naturais e selvagens da mulher, da vida, dos homens, das crianças, da terra. Use seu amor além dos seus bons instintos para saber quando rosnar, quando atacar, quando aplicar um golpe violento, quando matar, quando recuar, quando ladrar até a madrugada. Para viver o mais próximo possível da força espiritual selvagem, a mulher precisa sacudir mais a cabeça, ser mais exuberante, ter mais faro na sua intuição, ter mais vida criativa, enfiar mais a mão na massa, ter mais solidão, ter mais companhia de mulheres, levar uma vida mais natural, ter mais fogo, elaborar mais as palavras e as ideias. Ela precisa de um maior reconhecimento por parte de suas irmãs, de mais sementes, mais revolução na vizinhança, mais poesia, mais descrição de fábulas e fatos do feminino selvagem. Mais grupos de costura terrorista e mais uivos. Muito mais canto profundo.
Ela precisa sacudir o pelo, percorrer trilhas desconhecidas, afirmar seu conhecimento instintivo. Todas nós podemos afirmar pertencer ao antigo clã das cicatrizes, ostentar orgulhosas as marcas de combate do nosso tempo, escrever nossos segredos nas paredes, não aceitar sentir vergonha, abrir o acesso à saída. Não vamos nos desgastar com a raiva. Pelo contrário, vamos extrair forças dela. Acima de tudo, sejamos espertas e usemos nossos talentos femininos.
Tenhamos em mente que não se pode esconder o que há de melhor em nós. Portanto, apareça. Apareça, onde quer que esteja. E deixe pegadas fundas porque você pode fazer isso."
— Mulheres que correm com os lobos, Clarissa Pinkola Estés.
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✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADA
FanfictionLorella sabia que monstros existiam, e que eles não eram apenas valgs. Monstros, para ela, eram pessoas. Humanos, bruxas e feéricos, ela não via diferença quando tudo o que conheceu fora brutalidade e crueldade. Trancafiada desde criança pela falsa...