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Lorella
CONFORME DESÇO A RUA, UMA PAZ AGRADÁVEL E BEM VINDA TOMA CONTA DE MIM.
Ninguém me olha com desprezo, perplexidade ou medo. Não preciso me preocupar com minha própria defesa ou manter minha cicatriz escondida. De certa forma, me sinto livre. No sentido total da palavra. E o sentimento é doce.
Compro uma daquela maçã verde com caramelo endurecido envolta, a mesma que Fenrys estava comendo mais cedo, e aproveito a sobremesa conforme caminho entre os foliões reparando em suas mãos e tentando ouvir e seguir meu instinto. A fruta com a combinação do caramelo é um sabor inebriante na boca, e tão doce que minhas mandíbulas formigam. Bebo uma caneca de cerveja conforme vou me deslocando pelo festival, saindo do caminho da caça e do caçador e fingindo avaliar as máscaras à venda para serem usadas no evento pela população.
Achei que o festival seria mais brutal, selvagem e até mesmo sangrento pela forma como Fenrys disse mais cedo — mas o que vejo é apenas alegria, muitas pessoas bêbadas e dançando até os pés criarem calos ou bolhas.
Sorrindo, olho para o céu e vejo tantas estrelas que meus olhos mal podem notar todas. Parecia uma grande celebração, uma festa grandiosa que a galáxia estava fazendo para comemorar junto dos humanos e feéricos aqui na terra, celebrando o mesmo festival libertador e selvagem. Olho para as estrelas sobre mim no céu e penso que estou vendo o infinito. Mas, debaixo de seu olhar escuro e pontilhado por brilhos, eu me sinto pequena, covarde e fraca. Então, de repente, toda a beleza do céu estrelado não significa nada quando a vida aqui embaixo ainda é um caos de poder e vingança.
Me sinto culpada por estar feliz, caminhando em um festival e comendo doces enquanto aldeias foram chacinadas pela rebelião que meu pai está causando em nome de Maeve. Buscando vingança pela falsa rainha que ele idolatrava e, talvez, até mesmo amava.
Jogo o restante da maçã caramelizada em uma lata de lixo e respiro fundo, ordenando que meu corpo começasse a usar os instintos que Aelin e Rowan confiaram para essa missão. Deixo que minha mente viaje para longe e além, se desconectando com a celebração ao meu redor e me focando em uma única coisa: a Andarilha. Em encontrar uma mulher de cabelos mesclados com uma mancha na mão em formato de pássaro.
Mas parece que eu não tenho um tipo bom de intuição, porque minha cabeça voou longe, e meus pés me trouxeram para um lugar do qual eu ainda não tinha conhecido da aldeia. As ruas são mais estreitas e estão cheias de foliões — mas não alegres, contentes e celebrando como os de antes. Estes possuem um olhar maligno em seus rostos conforme eles se abarrotam nas tavernas de tetos baixos, cerveja barata e cortesãs ainda mais acessíveis. Quando me dou conta de onde meus pés traiçoeiros e traidores me trouxeram, eu paro no meio da correnteza de pessoas que passavam ao meu redor e, com o corpo tenso, dou meia volta, apertando o passo para voltar a parte iluminada da cidade pelas lanternas de papel.
Estou a poucos passos de alcançar a curta ponte de madeira que passava sobre um córrego, me levando até o outro lado da aldeia, quando alguém me puxou com brutalidade pelo braço e me jogou no fundo de uma viela sem saída. Meu corpo se enroscou nos varais baixos e eu tratei de puxar minha adaga para fora da bainha, cortando com rapidez os cordões e deixando as roupas caírem no chão de pedra, sobre poças de água suja — ou seja lá o que fosse essa água escura.
Antes que eu pudesse girar a adaga em minha mão para a pessoa do outro lado do lençol estendido a minha frente — pendurado no único fio do varal que eu não pude cortar —, a pessoa chuta minha mão com força e a adaga voa dos meus dedos. Ouço o metal tilintar quando cai no chão e desliza pela pedra áspera. Dou um passo para trás, pronta para a briga, quando uma sombra surge por trás dos barris no fundo da viela e prende meus braços para trás do meu corpo. Tento me soltar, acertar um chute na pessoa atrás de mim, mas o homem se esquiva com facilidade e solta uma risada no meu ouvido, em voz baixa e rouca.
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✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADA
FanfictionLorella sabia que monstros existiam, e que eles não eram apenas valgs. Monstros, para ela, eram pessoas. Humanos, bruxas e feéricos, ela não via diferença quando tudo o que conheceu fora brutalidade e crueldade. Trancafiada desde criança pela falsa...