𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑫𝒆𝒛

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Lorella


NO OUTRO DIA, COMO ELE HAVIA PROMETIDO, FORA VAUGHAN QUEM ME TREINOU.

Não posso mentir e dizer que fiquei alegre por sua presença. Não. Eu queria que fosse Rowan a me treinar porque nosso treino com a espada fora realmente bom, e me fez avançar contra meu medo e minhas limitações. Rowan era um bom instrutor, por mais que não quisesse admitir. Vaughan me levava ao limite e Fenrys quase sempre me deixava cansada com seu otimismo sobre mim mesma, mas com Rowan... uma parte dele entendia que eu não precisava de tanto incentivo mas também não precisava da forma fria com que Vaughan me treinava. Ele sabia meus mais profundos traumas mesmo sem eu dizer uma palavra, e ele foi a primeira pessoa que vislumbrou meu poder escorrendo para fora de mim como algo vivo e tenebroso.

Vaughan, como sempre, continuou se limitando a me manter presa com os exercícios físicos — me fazendo desviar de seus golpes, escalar aquela parede rochosa mais de três vezes e pular de uma corda a outra. Os três dias seguintes continuaram nesse mesmo ritmo, mas é no quarto dia, quando o castelo está sendo açoitado por uma chuva inesperada de primavera, que eu encontro Rowan sentado despreocupadamente na mesa de jantar onde eu estava prestes a tomar meu café. Ele abre um sorriso preguiçoso e bebe um gole de seu chá com leite.

— Bom dia — diz, girando uma adaga que ele tinha em mãos. — Você acordou cedo.

— Está aqui há muito tempo? — me sento em sua frente, agradecendo a quem seja que tenha colocado mais comida do que o habitual por causa da presença do rei por aqui. Apanho uma fatia de pão, algo que eu não comia há mais de um mês, e passo uma camada generosa de geleia por cima.

— Não, eu acabei de chegar — Rowan informa, girando a adaga entre os dedos.

— E o que veio fazer aqui? — pergunto, dando uma dentada na fatia quente do pão. Quase reviro os olhos pelo gosto e pelo calor que invade minha boca.

— Vamos treinar hoje — diz. — De uma maneira... diferente.

— Como?

O rei apenas sorri, dando outro gole em seu chá.

— Você vai ver.

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Eu deveria começar a repensar se minha estadia por aqui valia minha humilhação — e minha sanidade —, ou se minha nova e improvável amizade com Rowan valeria minha liberdade e meu treino para me tornar alguém melhor.

Porque o desgraçado me trouxe para fora — no meio da chuva que estava caindo do céu, como se estivesse acontecendo a porra de um dilúvio sobre nossas cabeças. Eu mal conseguia vê-lo na minha frente, muito menos poderia lutar com ele como ele esperava que eu o fizesse.

— Isso é um ambiente muito bom — ele grita por cima de toda a aguaceira ao nosso redor. — Você precisa estar habituada com todos os tipos de ambiente!

— Isso é uma palhaçada — grito de volta, segurando minha espada com força, com as duas mãos, em frente ao meu corpo. — Como eu posso lutar se eu mal consigo ver você?

— Dê seu jeito!

— Porco — ouço sua risada quando eu o retruco.

Eu estava ensopada. Meus cabelos estavam lisos de tanta água que o encharcavam. Minhas roupas estavam coladas à minha pele, e eu começava a sentir os pingos gelados da chuva como se estivessem caindo nos meus ossos, atravessando minha pele e acertando meus ossos como agulhas de gelo. Rowan, assim como eu, estava completamente molhado — ele não se preocupou em usar magia para se manter seco. Nisso aqui éramos iguais, com chances igualitárias.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora