𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑸𝒖𝒂𝒓𝒆𝒏𝒕𝒂 𝒆 𝑫𝒐𝒊𝒔

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Lorella

ERAM SETE DA MANHÃ DE UM DIA GELADO, E A PROCISSÃO DE LADIES E LORDES DA CORTE SEGUIU EM UM SILÊNCIO FASTIDIOSO EM DIREÇÃO AO TEMPLO DE VIDRO E MÁRMORE NO CENTRO DO JARDIM LESTE.

— Não acredito que estamos mesmo fazendo isso — sussurrei, apertando meu braço com o de Fenrys. O lobo branco me olhou quando aproximei minha cabeça para mais perto dele e deixei meu olhar fixado na nuca de Manon, alguns passos à nossa frente. — Porra, são sete da manhã. Quem acorda tão cedo para uma droga de celebração? Isso deveria ser blasfêmia!

Fenrys abafou sua risada com o punho em frente aos lábios.

Vestindo um de seus melhores trajes de gala até hoje, ele estava particularmente lindo nesse dia. O gibão de veludo verde e preto com costuras douradas era um deleite para os olhos, em perfeito contraste com sua pele acobreada e os cabelos dourados com a parte superior firmemente amarrados com uma tira de couro. As botas marrons estavam engraxadas e eram novas, combinando com a calça de tom parecido. Uma espada com cabo ornamentado pendia de seu cinto, com o punho da espada sendo em ouro brilhante no formato do emblema de Terrasen. Um broche do mesmo material estava pendurado no peito de seu gibão, ostentando os chifres do Cervo Branco.

Eu também tive de me esforçar para me preparar para essa celebração sem sentido e frívola: Dora me acordou uma hora mais cedo e me fez tomar um banho no mesmo quarto da noite passada, onde ela e mais duas criadas me ajudaram a me preparar sem Fenrys ao meu lado. O lobo permaneceu em nosso quarto e eu fui enfeitava e aperfeiçoada à aparência da Corte no quarto da frente.

Dora me apertou dentro de um vestido verde-escuro rendado. Dessa vez havia deixado uma das criadas passar uma boa camada de pomada-base sobre minha cicatriz e pó de arroz sobre minhas olheiras. Meus cabelos foram penteados em um elegante coque com algumas mechas cacheadas emoldurando meu rosto. Luvas verdes de cetim até os cotovelos foram enfiadas em meus braços e um elegante bolero de pelo preto e fofo foi colocado sobre meus ombros, deixando minha clavícula a mostra, ostentando um deslumbrante colar de pérolas marinhas de quase trezentos anos presente na família de Dorian.

Ao lado de Fenrys, parecíamos como um casal diplomático enviado diretamente de Terrasen, do jeito que deveríamos aparentar — a não ser pelo fato de que eu não gostava de manter as aparências de uma lady para todas essas pessoas. Não queria que eles sentissem conformidade por mim ou que gostassem de mim, queria ser respeitada.

E eu sabia que, para a Corte de Adarlan me respeitar, eu só conseguiria isso através de seu medo.

Então eu mesma peguei os pincéis das mãos das criadas e reforcei minha maquiagem. No lugar de um simples batom rosado, deslizei o pincel molhado com o líquido rubro mais vermelho que encontrei, e alonguei meu olhar com o kohl preto que encontrei no fundo da gaveta. Dora ficara desgostosa pela minha atitude, vista como uma atitude rebelde e blasfêmica para uma celebração religiosa como a que estávamos a caminho, mas eu não era responsável pela fé dos outros, ou o que eles achavam de mim. Gosto de me agradar, então eles que lidem com seus preconceitos sobre mim.

Fenrys olhou ao redor, soltando um suspiro e colocando sua outra mão sobre a minha.

— Sinceramente, meu amor, estou surpreso por você não estar reclamando mais.

— Reclamando de quê?

A voz de Manon foi baixa à nossa frente. Desviei o olhar do macho ao meu lado e olhei para frente. Para ela. Usando o mesmo macacão cheio de pingentes dourados na lateral que eu a vira uma vez, botas sobre os joelhos e a capa vermelha, com aquela coroa resplandecente em sua testa, Manon se parecia como uma deusa recém criada quando se virou e nos olhou com as íris douradas brilhando em desafio.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora