𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑽𝒊𝒏𝒕𝒆 𝒆 𝑪𝒊𝒏𝒄𝒐

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Lorella


— COMO VOU CONSEGUIR TE FAZER MOSTRAR AS GARRAS HOJE, VADIAZINHA MESTIÇA?

As palavras de Cairn não passaram de uma respiração quente em meu ouvido enquanto sua faca raspava em minha barriga através do corte em minha camisola.

Não. Não, tudo isso deveria ser um sonho. Eu estaria errada? Ou todo o restante da minha vida perfeita seria um sonho? Minha ida até Morath, a fuga, meus longos meses sobrevivendo sozinha e então depois Flora e todos em Terrasen...

Cairn cravou a ponta da adaga na carne macia da minha pele entre uma costela e outra, e rangi os dentes quando o sangue se derramou sobre a mesa da qual eu estava deitada e amarrada. Quando ele começou a torcer a lâmina, um pouco mais a cada rotação, senti meu coração galopar em meu peito e o vômito subir à minha garganta. Ele tinha feito isso tantas vezes. Por todo o meu corpo, jamais se limitando a um único e exclusivo lugar. Ele só pararia quando tivesse atingido o osso ou fraturado algum órgão interno, causando-me uma hemorragia. Apenas quando eu estivesse gritando e prestes a morrer.

Um sonho. Uma mera ilusão.

Minha fuga das mãos dele e de Maeve tinha sido outra ilusão. Eu não consegui conter o soluço que saiu de mim. Então uma voz fria e culta ronronou ali perto:

— Toda essa pose de corajosa, mas você já está chorando?

Irreal. Maeve, do outro lado do altar, não era real. Não podia ser — mesmo que ela parecesse ser muito real, com seu cabelo preto azulado e usando seu vestido e suas joias de forma impecável. Soberana. A rainha abriu um sorriso frio ao fixar seus olhos profanos em mim.

— Eu esperava mais de você, monstrinho — Cairn torceu a faca novamente, cortando o músculo. Meu corpo se arqueou sobre a mesa, meu grito soando em meus ouvidos como a lamúria de um animal ferido. Ao meu lado, Maeve riu com satisfação prazerosa por me ver sofrer. — Você poderia sair dessas correntes se realmente quisesse — disse, franzindo a testa com insatisfação. — Se você realmente tentasse. Vamos, pequenina. É só usar seus poderes. Eu sei que estão por aí em algum lugar. Me mostre como da outra vez. Tente se soltar — então ela acrescentou, rindo com um deboche cruel: — Tente me matar.

Não, eu não podia, eu não conseguia... e tudo não tinha passado de um sonho, uma linda mentira que a vadia implantou em minha mente. Como aqueles sonhos realistas que ela me fazia ter e delirar só para me mostrar o que eu jamais teria. O que eu jamais terei.

— Sabe, às vezes acho que você quer ficar aqui. Que você escolhe não sair porque... — Maeve riu, se deleitando em suas palavras. — Porque você não sabe como é lá fora. Aqui é tudo o que você conhece e conhecerá. E, no fundo, você sabe que ninguém vai te aceitar. Não vão aceitar uma mestiça como você. Um erro. Uma anomalia que não deveria existir. Você sabe que ninguém seria capaz de te amar. Afinal, como alguém seria capaz de amar um monstro?

Eu me debati contra a destruição que estava sendo feita em minha costela, não ouvindo Cairn enquanto ele zombava e concordava com as palavras de sua rainha. Eu só me mantive ouvindo a Rainha de Wendlyn, soberana e cruel, conforme lágrimas escorriam pelo meu rosto e suas palavras dilaceravam meu coração mais do que a lâmina de Cairn estava rasgando a lateral do meu corpo. Um silvo alto escorreu pelos meus lábios, como um sibilar de ajuda. De um grito por socorro. Talvez Maeve tivesse razão. Talvez suas palavras tivessem finalmente se sincronizado com as palavras da minha mente: de que eu era irracional, selvagem e analfabeta. De que eu não passava de um erro que não deveria existir. Que minha mãe morreu por mim porque eu sou um erro; que meu pai me odeia e sente repulsa do que eu sou.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora