𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑽𝒊𝒏𝒕𝒆 𝒆 𝑶𝒊𝒕𝒐

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Lorella


A FEMÊA DESPERTOU UMA HORA ANTES DO AMANHECER.

Ela piscou diversas vezes antes de mover o pescoço. Uma careta retorceu seu rosto inchado e tatuado conforme ela se erguia nos braços para observar ao redor. Seus olhos amarelos me notaram de imediato. Sustentei seu olhar enquanto ela me avaliava. Deixei minhas pernas dobradas e meus antebraços sobre meus joelhos conforme eu girava uma adaga entre as mãos. Meus cabelos cacheados estavam soltos e selvagens, emoldurando meu rosto. O lugar estava frio, ainda mais pela rajada de vento que invadia a casa através do buraco no teto da sala — dessa forma, parecia que a casa possuía vida própria algumas vezes, rangendo e com o vento soprando dentro dos cômodos, em uma espécie de assobios gelados.

Fazendo uma careta de dor, a fêmea conseguiu se sentar e encostar-se na parede oposta. Ela esticou as pernas longas e respirou fundo. Seus dedos tocaram sua face na procura de sangue e, quando não encontrou nem um resquício de sangue seco em sua pele, ela me olhou com desconfiança.

— Seu rosto está menos inchado — informei, com a voz rouca, pelo longo tempo em que fiquei em silêncio na espera de que ela despertasse. Coloquei a faca de volta na bainha e ajeitei a capa em meus ombros. — As horas que você dormiu ajudaram a desinchar seus ferimentos e fechar um pouco o rasgo em sua bochecha. O rasgo já está coagulado, não foi profundo.

— Você me limpou? — acenei uma vez. — Por quê?

Garantindo que o carvão estava em um dos meus bolsos, puxei a manga do meu traje para cima. Passei meu polegar na língua e levei meu dedo molhado para o desenho da marca de Wyrd em meu pulso. Conforme deslizei o polegar sobre o feitiço, desfazendo-o e quebrando a magia, notei as narinas da semifeérica se dilatarem quando meu cheiro preencheu o quarto junto do cheiro do seu sangue que respingou no chão.

Os olhos da mulher se arregalaram e ela arfou, se afastou da parede e levou a mão trêmula à boca, continuando a me olhar como se tivesse acabado de encontrar um fantasma.

Você... — ela balbuciou, tirando a mão da boca e apontando para mim. — Você é...

— Sim, eu sou como você — falei em voz baixa, deixando que ela sentisse meu cheiro mais uma vez. — Eu sou filha de Dilden Holdwyn.

O corpo dela caiu contra a parede, incrédulo.

— Eu não acreditava quando Isla falava sobre você... — minha irmã sussurrou ainda desacreditada. — Eu não acreditava quando ela dizia que existia outra.

— Isla... vocês se conhecem? — perplexa, a fêmea assentiu. — Eu já a vi. Uma vez — ela anuiu outra vez, ainda surpresa demais com a minha revelação. — Onde ela está?

— Por que você está com eles? — sua pergunta me calou, e eu olhei de soslaio para os lados, garantindo que Fenrys e Vaughan não estivessem por perto. — Por que você está com os lacaios da rainha do Norte?

— Eles... são meus amigos — ela parecia confusa. — Eles me ajudaram.

— Eles? Te ajudaram? — assenti, revirando meus dedos em nervosismo. — Como?

— Você não sabe nada sobre mim?

— Por que eu deveria? — replicou. — Não é como se Dilden tivesse nos contado sobre você. Na verdade, ele tem plena certeza de que você está morta. Sequer deve ter pensado em você durante todos esses anos.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora